Precisamos falar sobre Angelo Assumpção

O ginasta, Angelo Assumpção, está mais de um ano e meio sem clube para poder treinar. Recentemente desabafou em suas redes sociais.

Precisamos falar sobre Angelo Assumpção


Angelo, questiona: “qual o crime que cometi para ser banido da ginástica?”.

No caso em questão, uma vítima de racismo no clube em que treinava durante praticamente toda a carreira, desde criança. Denuncia as instancias superiores seu sofrimento. Sofrimento este, que já o vitimou, também, na seleção brasileira. Como resposta, seu contrato não é renovado. E desde então, encontra-se sem poder treinar adequadamente. Sem poder fazer o que tem vocação e talento.

Seu desabafo ilustra como o esporte é semelhante a nossa sociedade. Carregado de racismo estrutural. Em entrevista ao podcast, “Ubuntu Esporte Clube”, o ginasta relata, seu sofrimento emocional e quanto esse episódio comprometeu sua saúde mental.

Djamila Ribeiro, recentemente em texto na Folha de S.Paulo, comentou sobre esse assunto:

“Mesmo com bons resultados, Assumpção segue sem clube, o que chamamos de dupla violência: ter sofrido a violência racista e ter sido penalizado por denunciá-la.
Assumpção relatou como o ambiente no clube se tornou hostil após as denúncias, corroborando o que o intelectual Adilson Moreira afirma sobre os impactos do racismo recreativo: tornar o ambiente tão hostil a ponto de expulsar a pessoa negra para a manutenção da supremacia branca.


O esporte tenta ser um veículo para combater o racismo no mundo.


Os Basquete americano tem sido a modalidade protagonista nesse sentido, o ativismo de atletas após as recorrentes mortes de negros nos Estados Unidos, principalmente após o assassinato de George Floyd. Influenciaram atletas de outras modalidades em todo o mundo a questionar sobre essa problemática.
A falácia de que esporte e politica não se misturam, já pode ser sepultada principalmente, após esses episódios.


“Protestos antirracistas no esporte incomodam –a ponto de fazer atletas que se posicionam contra o racismo perderem tudo (vide Angelo na ginástica e Kaepernick no futebol americano), porque falar de racismo no esporte faz dirigentes confrontarem seu próprio lugar de privilégio nos mandos e desmandos dentro e fora dos campos.”

“No esporte e fora dele, antirracismo não é uma identidade performaticamente construída em likes, mas uma luta coletiva. Combater racismo pressupõe um duplo esforço: de um lado, trabalhar na desconstrução das armadilhas que a branquitude nos colocou na mente ao impedir que nos reconhecêssemos como negros; e, de outro, direcionar nossa mira para as estruturas de privilégio que mantêm o gramado negro e a sala da presidência dos clubes branca…”

“Para além desses casos, torna-se fundamental debater a democratização do esporte, as barreiras que impedem que pessoas negras tenham oportunidades de acesso a diversas práticas esportivas.

Porém, é fundamental entender a complexidade desse processo de se tornar negro. É preciso estudar, estar disposto à escuta e a entender os processos históricos que criam as desigualdades. Temos vários exemplos de esportistas ao redor do mundo que se posicionam e jogam luz sobre questões importantes para a sociedade.

Compreender que não se trata de algo meramente individual também é importante, logo não é suficiente somente se manifestar quando acontece consigo e se calar quando atinge outras pessoas. A tenista Naomi Osaka, Lebron James, Lewis Hamilton, para citar alguns exemplos, entendem perfeitamente esse ponto e visibilizam campanhas antirracistas importantes e se manifestam contra o assassinato de pessoas negras; eles não se manifestam somente quando são o alvo do racismo.” (Trecho de texto de, Thiago Amparo, para o jornal Folha de S.Paulo).

Precisamos falar sobre Angelo Assumpção


Psicologia deve ser antirracista.

Pouco aprendemos nas faculdades de Psicologia brasil à fora sobre o sofrimento causado pelo racismo nas pessoas de pele preta. Essa é uma lacuna que nós, psicólogos, temos o dever profissional de nos aprofundarmos. Essa é também uma dívida histórica que temos com a sociedade brasileira.

O mesmo acontece no contexto esportivo, poucas são as pesquisas científicas que tratam desse tema, por exemplo. A literatura com relação ao racismo no esporte ainda é escassa. Porém, os exemplos são inúmeros. Quantos ‘Angelos’ estão por aí sem serem ouvidos? Quantas meninas e meninos estão sofrendo desse mal sem que suas dores sejam escutadas e amparadas? Precisamos dar conta disso.


Referências:

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/09/neymar-faz-bem-ao-assumir-negritude-mas-erra-ao-titubear-na-luta-antirracista.shtm

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/djamila-ribeiro/2020/09/a-luta-antirracista-nao-pode-ser-somente-quando-acontece-com-voce.shtml

https://brasil.elpais.com/esportes/2020-08-29/uma-nova-era-no-ativismo-do-esporte-mundial.html

https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/damiris-fala-sobre-racismo-problemas-do-basquete-brasileiro-e-protagonismo-inedito-na-wnba/

https://interativos.globoesporte.globo.com/podcasts/programa/ubuntu-esporte-clube/episodio/ubuntu-esporte-clube-42-e-o-cancelamento-vai-para/

https://brasil.elpais.com/esportes/2020-09-06/angelo-assumpcao-minha-existencia-na-ginastica-um-esporte-elitizado-e-de-brancos-significa-muita-coisa.html



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Abraços…

Até!!!

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