Quem faz a Psicologia do Esporte – Marisa Markunas

Estou iniciando uma sessão no blog ( Quem faz a Psicologia do Esporte) com entrevistas à profissionais que atuam em diferentes áreas e que possuem um trabalho sério e reconhecido.

Inicio esse bate-papo com a psicóloga do esporte Marisa Markunas* atualmente professora universitária e coordenadora do setor de psicologia do Fianasa/Osasco nas categorias de base do vôlei e do basquete.

 Quem faz a Psicologia do Esporte - Marisa Markunas

 Blog:  Por quê  escolheu trabalhar com psicologia do esporte?

Marisa: Esta é uma longa história, mas de certa forma não posso dizer que foi uma escolha, mas a construção de um percurso. De uma certa forma a prática esportiva sempre esteve em minha vida, pelas brincadeiras na rua ou pela Ed. Física escolar. Eu até pensava em fazer graduação em Ed. Física quando conheci a psicologia no Ensino Médio e aí mudei de rumo. Quando estava no 8º semestre do curso fui a um Congresso da ABPMC (Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental), em Santos, onde equipes de basquetebol feminino estavam hospedadas para uma competição. Foi assim, casualmente que me vi num ambiente inesperado que percebi a possibilidade de aproximar a área na qual eu me formava profissionalmente (a psicologia) e a área com a qual eu tinha grande apreço pessoal (o esporte ou as práticas de atividades físicas em geral). Daquela ocasião em diante fui procurar caminhos e encontrei o Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte do Prof. Dr. Dante de Rose Jr. na EEFE/USP…. comecei a estudar e participar deste contexto e as oportunidades foram aparecendo.

Blog:  Quais são as dificuldades que acredita que existe para quem quer trabalhar com psicologia do esporte?

Marisa: Difícil esta questão pois poderia ser abordada de diversas formas, por exemplo, eu poderia falar em

a)   dificuldades conceituais ou teóricas já que a graduação em psicologia por si só, pouco prepara o profissional para o mercado de trabalho. É fundamental uma certa bagagem prática, como estágios reais (pois em muitas instituições são situações de aplicação limitada de técnicas) em que é possível vivenciar os processos de diagnóstico, análise institucional, reconhecimento de demandas e desenvolvimento de estratégias e planos de ação para agir em relação a queixas ou necessidades que sejam reconhecidas. Tudo isto quer dizer que as dificuldades para trabalhar em psicologia do esporte são antes dificuldades para trabalhar em psicologia, pois há profissionais que buscam o esporte com a ilusão de ser um contexto de saúde e que a atuação é “fácil” por conta da “praticidade” das situações e do contato direto com o universo do indivíduo ou grupo, por exemplo. Se o profissional não tiver clareza sobre a atuação do psicólogo terá dificuldades de compreender seu papel, a co-relação e interdependência desta atuação com profissionais de outras especialidades ou profissões.

b)      Deste item anterior decorre a necessidade fundamental do profissional da psicologia ser um conhecedor crítico do fenômeno esportivo, de suas manifestações e da relação disto com mídia, público leigo, familiares, atletas, dirigentes, professores, treinadores etc. Muitos psicólogos precisam falar em “português” e não em “psicologuês” e facilitar a troca de informações e cooperação no cotidiano, o que não significa ter uma visão ou prática simplista da realidade e de intervenções. A formação portanto deveria levar o indivíduo a uma leitura crítica do esporte (e suas manifestações), da realidade brasileira e a relação com os diversos contextos internacionais (até porque boa parte da literatura utilizada vem de outros países). Gosto de dizer de uma maneira bem direta que o profissional precisa ter uma visão do fenômeno esportivo além da reprodução do que mostra o Globo Esporte.

c)     Outra dificuldade pode ser a de ordem financeira pois o reconhecimento deste trabalho ainda é precário e os investimentos para a adequada contratação e remuneração de psicólogos especializados neste campo tem feito com que muitos de nós passemos por dificuldades. Isto quer dizer que é uma área com a necessidade de um período significativo de investimento de estudos, estágios, supervisão e obviamente um retorno financeiro limitado. Certamente existem exceções e oportunidades de remuneração diferenciada, como em qualquer área, mas isto depende do tal Q.I ou de uma larga atuação na área para construir consistência e respeito.

d)     Há outro aspecto fundamental a ser colocado nesta questão: o trabalho em psicologia do esporte é de exclusividade do psicólogo, visto que é uma especialização de uma profissão e isto muitas vezes trás incomodo e divergências na prática cotidiana com profissionais de outras áreas buscando esta atuação, mas sem compreender que não se trata de corporativismo e sim de legislação brasileira.

Blog: Você trabalha com basquete e vôlei em categorias de base. Existe diferenças nas estratégias nesses dois esportes ?

Marisa: Sempre existirão diferenças entre as modalidades esportivas ou mesma modalidade em diferentes instituições pois devemos levar em consideração as questões culturais, ou seja, vôlei e basquete tem uma história e perspectivas diferentes. Por exemplo, o voleibol no Brasil há alguns anos é uma referencia do desempenho internacional e isto se manifesta no cotidiano de quem lida com a modalidade, quer seja em termos de oportunidades – maior massificação da modalidade – quer seja em termos de pressão por melhores desempenhos ( mais pessoas praticando = mais concorrência). Ou seja, cada modalidade propõe ao seu praticante caminhos e desafios e isto tem aparecido na minha prática profissional com vôlei e basquete.

Ainda que seja difícil descrever posso afirmar que há sim uma diferença nestes dois contextos que trazem exigências ao trabalho do profissional, sem dúvida.

As estratégias e atividades que utilizo no cotidiano são parecidas em alguns aspectos nestas modalidades pois elas tem elementos comuns como: são modalidades esportivas com bola e coletivas, então fazemos muitas atividades visando o desenvolvimento de práticas e experiências da interdependência dos membros da equipe, em outras palavras, buscamos trabalhar a coesão grupal. Contudo, há particularidades nestas modalidades como já citei antes ou por exemplo o fato de o basquete ter um tipo de exigência em função do contato direto entre oponentes e o voleibol ser uma modalidade em que não há esta condição pela separação das equipes pela rede.

Blog:   Existe algum trabalho específico para os atletas em transição na carreira? E para aqueles que são cortados do grupo?

Marisa: Sim, busco pensar a transição na carreira como um processo, que se manifesta em diferentes períodos e com nuances específicas. Este processo representa passagens, que podem ser estimuladas por circunstancias bem específicas como uma lesão grave ou por situações naturais do Treinamento em Longo Prazo. Por exemplo, aproximadamente aos 14 anos de idade a garota percebe mais claramente o peso que o desempenho tem na escolha das jogadoras titulares e isto pode representar, em pouco tempo, a transição do esporte “infantil”, mais próximo do lúdico e saudável ao esporte de rendimento, em que a performance e o aperfeiçoamento ganham significativa importância. No mesmo sentido ao final do processo de formação da jovem em categorias de base há a preocupação de buscar oportunidades em equipes adultas, a partir dos 19 anos de idade e ao longo do último ano destas jovens nas equipes juvenis busco fazer um acompanhamento individualizado para reconhecimento de objetivos e metas, estratégias utilizadas para atingi-las, reconhecimento e potencialização de repertórios específicos de comportamento para lidar com esta situação nova. É importante pensar então que a transição não é pensada somente em passagens específicas, mas ao longo do programa de preparação psicológica em que a jovem vai aprendendo a identificar desafios, enfrentá-los, reconhecer as habilidades necessárias para tanto, fazer uma autoanálise e continuar prosseguindo. Depois que as jovens se desligam da instituição a qual trabalho não tenho um contato formal com elas, mas indiretamente há uma disponibilidade para apoiar em situações de maior necessidade. Felizmente, elas tocam seus caminhos, praticam suas transições sem muito recorrer a uma apoio específico.

Blog: Como é ser professora universitária e dar aula de psicologia do esporte para estudantes de educação física?

Marisa: Fascinante. Quando conheci a psicologia foi no Ensino Médio e já naquela ocasião eu tinha a ideia de dar aulas de psicologia. Durante a graduação isto foi ficando mais claro e a questão de falar de psicologia e ensinar psicologia a pessoas que tem pouquíssimo contato com a área é um belo desafio. Uma tarefa que me obriga a conhecer mais a psicologia e melhorar sempre minha interlocução com o profissional de outras áreas, no caso Educação Física. Trata-se de uma atividade de grande responsabilidade pois muito do que ele virá a abrir ou não portas para a psicologia em seu campo de atuação (em escolas, clubes, academias etc) poderá ser estimulado ou não nestas aulas que contribui em sua graduação.

Blog: A psicologia do esporte ainda não possuiu o reconhecimento que merece no meio esportivo. Na sua opinião o que falta para que essa situação mude?

Marisa: Falta divulgação da consistência profissional e das práticas éticas. A classe de profissionais que já atua em psicologia do esporte precisa se fortalecer e penso que a Abrapesp (Associação Brasileira de Psicologia do Esporte) seja um interessante espaço para isto pois pode promover o debate entre profissionais, divulgar as experiências práticas, facilitar a troca com outras áreas e também ampliar a visibilidade na mídia de que não se trata mais de pioneirismo ou oportunismo mas de conhecimento acumulado, práticas debatidas e revistas.

Blog: Têm alguma novidade que possa compartilhar conosco ?

Marisa:  Gostaria muito de divulgar já alguma atividade neste sentido, mas neste primeiro semestre minha prioridade tem sido colocar ordem em pendências pessoais e algumas ligadas ao trabalho como escrever alguns materiais. Vou deixar ainda em aberto esta questão pois somente para o segundo semestre deverei dar mais consistência a algo neste sentido e espero então contar com o “Psicologia no esporte” para divulgação.

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* Marisa Markunas é Psicóloga formada pela PUC/SP, Especialista em Psicodrama pelo convenio SOPSP-Cogeae (PUC/SP), Mestre em Educação Física pela EEFE/USP.

Professora do Curso de Especialização em Psicologia do Esporte, do Instituto Sedes Sapientiae desde 2001.

Professora da Graduação em Ed. Física da UniSantanna desde 2005.

Professora do Curso de Especialização em Treinamento Esportivo e Treinamento em Voleibol da Univ. Gama Filho, desde 2006.

Colaboradora em publicações da Psicologia do Esporte, em especial livros da Casa do Psicólogo.  

Ex-Diretora da Abrapesp (Gestões 2005-2007 e 2007-2009).

Contatos: marisamk@usp.br

Abraços.

Até !!!

1 comentário em “Quem faz a Psicologia do Esporte – Marisa Markunas”

  1. Oi, gostei muito do se trabalho e gostaria de saber de você, se você interessa de fazermos um plano juntos, um site comunicando com o outro. Se gostar da ideia, entre em cotanto conosco. Obrigado e parabéns.

    Guilherme Evangelista
    Adamantina – SP

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