Texto publicado por Elaine Ferreira (com a minha colaboração) na Revista Master, especializada em Artes Marciais e Lutas na edicão de Março de 2011. Veja PDF – revista master
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A influência do equilíbrio emocional.
Enganam-se “redondamente” aqueles que acreditam que as artes marciais, por exigirem um excelente preparo físico, limitam-se ao mero exercício e à simples execuçãodos golpes. O termo “psicobioespiritual”, bastante divulgado no meio marcial, conhecido como “a essência da arte e harmonização desta e de seu praticante com o universo”, nada mais é do que uma expressão relacionada à psicologia. Aliás, uma das crenças basilares desta ciência determina que o homem em seu perfeito estado é aquele que consegue absoluta harmonia entre corpo e mente.
A própria expressão “psicologia do esporte” demonstra que esta ciência do comportamento é amplamente aplicada aos esportes em geral, e em especial às artes marciais, que por sua própria tradição e natureza já transcendem o aspecto unicamente físico. A psicologia do esporte tem por objetivo discutir e desenvolver vários aspectos da vida do atleta, tais como valores pessoais, motivação e percepções. A Psicologia do Esporte é tão antiga quanto à psicanálise; seus primeiros estudos tiveram origem no Século XIX, porém sua divulgação tomou força no final da década de 60 no mundo, sendo que no Brasil, somente a partir dos anos 80.
A matéria faz parte da grade curricular de grande parte das faculdades de educação física. Esta área já dispõe também de alguns cursos de pós-graduação em universidades. Uma das grandes pesquisadoras brasileiras sobre o tema é a Dra. Kátia Rubio, cientista, integrante do corpo docente da Universidade de São Paulo, e autora de vasta obra relacionada aos esportes de alto rendimento, em especial as competições olímpicas. Em sua obra intitulada “O Imaginário da Derrota no Esporte Contemporâneo”, constata que a derrota é, erroneamente, considerada algo abominável, a ser evitada a todo custo, e aos atletas. Este tema, extremamente delicado, chega a atingir patamares preocupantes quando os atletas, mesmo após conquistar posições de destaque e até mesmo subir ao pódio, não se sentem vitoriosos; ao contrário, sentem-se fracassados por não conquistar a medalha de ouro. A análise do estudo da Dra. Katia mostra que o esporte, a despeito de todos os seus incontáveis e já bem conhecidos benefícios, pode também revelar aspectos contraditórios.
Quem poderia afirmar que a prática de atividade tão benéfica quanto o esporte poderia ocasionar, por exemplo, problemas de auto-estima ao atleta? Daí é fácil constatar a importância da psicologia do esporte, que por tantos anos permaneceu relegado ao segundo plano, que o próprio rendimento do atleta pode ser severamente alterado por condições psíquicas desfavoráveis.
Segundo o Dr. Renato Miranda, outro estudioso do assunto, “a ideia de associar eventuais derrotas ao fracasso gera sentimentos bastante negativos, além de excessiva ansiedade. No entanto, todos nós sabemos que a derrota faz parte de nossas vidas, afinal, às vezes, mesmo os melhores cometem erros”.
A prática de esportes, assim como a maioria dos aspectos da vida humana, deve ser encarada como um aprendizado contínuo, buscando sempre a superação. As derrotas ocupam uma posição muito importante neste aprendizado, portanto é um assunto que deve ser muito trabalhado junto pois, somente com o reconhecimento destas, com inteligência e equilíbrio emocionais, é possível direcionar a experiência transformando-a de negativa em positiva, com a consequente melhora, tanto na vida quanto no desempenho do atleta.
Por último, é importante salientar que o trabalho do psicólogo do esporte é desenvolvido em conjunto com a equipe, e exige que as atitudes do grupo sejam coerentes com o objetivo traçado.
Abraços.
Até!!!