Adeus, Dr. Sócrates…

O Blog faz uma singela homenagem ao Excelentíssimo Senhor, Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira. Falecido nesta manhã em consequência de uma infecção generalizada.

Dentro de campo Dr. Sócrates foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, um gênio. Fora das quatro linhas foi um personagem diferenciado, politizado, formado em medicina (cursou enquanto jogava futebol), um idealista, lutou pela democracia no Brasil (foi um dos ícones do movimento “Diretas Já”). Teve coragem ao assumir em rede nacional seus problemas decorrentes do abuso de álcool e cigarro. O esporte e o Brasil perdem muito com a morte de Sócrates, um símbolo nacional.

Segue  abaixo um texto escrito pelo Doutor na revista Carta Capital, um link da última matéria também publicada na mesma revista e um vídeo com depoimento.

Sócrates realmente foi uma pessoa acima da média, aprecie um pouco de suas idéias.

 

O esporte como saída

(http://www.cartacapital.com.br/politica/o-esporte-como-saida/)

“Para tanto, temos em mãos um mecanismo simples e quase de graça para num só golpe atacar estas duas frentes: o esporte (de novo insisto). Como passamos a vida construindo equipamentos esportivos e tendo áreas livres aos montes, basta uma bola e um educador para produzir educação e promover saúde. Para, no fundo, multiplicarmos a cidadania”

A falta de educação e de saúde continua endêmica neste País, por isso temos tantos não cidadãos. Apesar da melhora da economia

Adeus, Dr. Sócrates...Ainda somos pobres. Todos nós sabemos e sentimos isso na pele, nas ruas, nos becos, nas favelas. Deixamos de ser um país endividado, com pouca capacidade de investimento e não baixamos a cabeça para o FMI, mas ainda somos pobres.

Muita coisa mudou em nossa realidade de uns anos até hoje, mas continuamos pobres. Até então, pouco havíamos feito na tentativa de transformar esse quadro miserável. Talvez por não interessar a quem poderia tomar as rédeas desta empreitada. Ou, quem sabe, por falta de coragem de mexer neste vespeiro.

Só havia uma forma de modificar essa situação: lutando para encontrar saídas para enfrentar de frente o problema da pobreza ou, ao menos, capazes de minimizar as carências existentes. Finalmente isso começou a ser atacado, entretanto, continuamos pobres. Por isso, por favor, não venha me dizer que este cenário de exclusão não faz mais parte da nossa sociedade. Não só existe como formam as maiorias. Maiorias que chamamos, hipocritamente, de minorias: pobres, negros e velhos.

Meu velho pai, filho de negro é bom frisar, não teve acesso a escolaridade regular. Nascido em uma família simples, teve de sair às ruas cedo para garantir a sobrevivência da família. Não tinha tempo suficiente para frequentar o prédio onde se ministravam as primeiras noções do conhecimento. Uma educação que sempre valorizou na busca por seus sonhos infantis.

A despeito desse obstáculo, saiu à procura de uma alternativa para ter acesso a essa riqueza. Com a única arma que dispunha – a leitura –, correu mundos atrás de livros que pudessem substituir o que perdera fora dos bancos escolares. Sempre tentando encontrar alguém com quem pudesse trocar os poucos exemplares que possuía. E foi assim que se credenciou para um dia se tornar cidadão. Até porque a cidadania só pode ser vestida se houver conhecimento. Sem isso, a nudez é única companheira.

Agora, de nada adiantaria todo esse esforço se não tivesse saúde. Mas como possuir saúde se, no canto em que nasceu e cresceu, quase nenhum saneamento existia? A cacimba nos fundos da casa fornecia a água tão necessária a uma interminável série de necessidades. Esgoto, nem pensar. A velha fossa, construída nem sempre dentro dos padrões básicos de preservação do lençol freático, recebia os dejetos dos moradores.

A comida era pouca, quase nenhuma. Farinha era o carboidrato disponível o mais das vezes. Tudo isso à luz dos lampiões que forneciam um pouco de luminosidade ao ambiente nos dias em que o querosene estava ao alcance. Eu poderia dizer por tudo isso que ele foi um sobrevivente dessa realidade tão cruel. E só por isso foi um cidadão.

A falta de educação e de saúde continua endêmica neste País. Todos nós entendemos das suas importâncias e gastamos fortunas do pouco que temos para oferecer produtos de baixíssima qualidade. Por isso temos tantos não cidadãos. Apesar da melhora geral da economia, continuamos insistindo com o velho modelo enraizado de há muito. Ninguém mexe no doce.

Para que possamos imaginar que seja possível produzir uma melhora substancial nestes serviços é necessário acreditar que ficaremos ricos de uma hora para outra. Isso não vai acontecer. Temos de inventar uma nova fórmula, mais barata e adequada ao que necessitamos. Temos de iniciar um amplo movimento que ofereça o básico para cada brasileiro nestes dois quesitos.

Para tanto, temos em mãos um mecanismo simples e quase de graça para num só golpe atacar estas duas frentes: o esporte (de novo insisto). Como passamos a vida construindo equipamentos esportivos e tendo áreas livres aos montes, basta uma bola e um educador para produzir educação e promover saúde. Para, no fundo, multiplicarmos a cidadania.

Será que isso se tornará prioritário neste período que nos separa da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016? Será que os estádios e os ginásios a serem erguidos servirão para agregar valor às duas questões mais prementes? Será que o chamado legado que poderá resultar dos investimentos que serão feitos contemplará tanto uma quanto outra? Afinal, de que servem transporte melhor, mais leitos, aeroportos e portos modernos e muitas outras ações se não cuidarmos do nosso povo?

***

Último texto escrito por Sócrátes: 2014 Verde.http://www.cartacapital.com.br/sociedade/2014-verde/)

Último vídeo e depoimento:

http://tv.estadao.com.br/videos,SOCRATES-A-DERROTA-NOS-FAZ-REAVALIAR-QUEM-SOMOS,154219,255,0.htm

Adeus Doutor, obrigado ….

Abraços.

Até!!!

 

1 comentário em “Adeus, Dr. Sócrates…”

  1. Só conhece uma realidade quem veio dela. Aqueles que falam que o Brasil não é pobre não viveu e nem vive a pobreza.
    Basta ler Orkut, Facebook e outras mídias sociais para se deparar com a pobreza educacional que esse país vive, não estou falando das gírias ou expressões típicas usada por internautas, estou falando da falta de conhecimento e escrita correta da língua portuguesa daqueles que estão ainda na escola ou mesmo cursando o ensino superior.
    Sócrates foi a prova de que educação e esporte podem andar de mãos dadas.
    R.I.P. Sócrates.

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