Blog – Comente sobre sua formação?
Dalila – Sou formada em Psicologia (Unesp) e Educação Física (IEDA), depois fiz pós em Psicologia do esporte (FMU) e Mestrado em Educação Física (UNICAMP). Mas, o que me aproxima mais dos atletas é o fato de ter sido atleta por mais de 15 anos.
Blog – Conte-nos sobre a sua trajetória profissional?
Dalila – Iniciei com psicóloga clínica e dando aulas de natação, cheguei a conclusão de que queria mesmo seguir com a psicologia esportiva. Fiz a a pós em São Paulo e morava no interior, então comecei também a trabalhar com uma equipe de Basquete até finalizar a pós. Depois fui pra Campinas e comecei a trabalhar no Laboratório de Bioquímica do Exercício da Unicamp, onde atendi atletas de diversas modalidades: golf, handball, karatê, judô, kung fu, natação, tênis, tênis de mesa, atletismo, entre outras. Também trabalhava em um centro de treinamento para atletas com necessidades especias na AABB, foi onde iniciei o trabalho com para-atletas. Ao mesmo tempo, ia duas vezes por semana para Paulínia, trabalhava com Bicicross e com atletas da modalidade de Goalball. Prestava consultoria a CBDC (Confederação Brasileira de Cegos do Brasil) e foi onde me indicaram para o Comitê Paralímpico Brasileiro, estou desde 2004.
Blog – Existe diferenças significativas no modo de atuação entre atletas paralímpicos e atletas olímpicos?
Dalila – Depende muito da equipe e do nível em que a mesma se encontra. Por exemplo, quando trabalhei com pessoas que estavam começando no paradesporto ainda trabalhava algumas questões como a aceitação da deficiência e outros assuntos relacionados.
Já com o paradesporto de alto-nível, como a seleção brasileira paralímpica, trabalho temas como concentração, regulação psicofísica com técnicas de treinamento mental, coesão grupal, motivação, superação. Enfim, a mesma forma como trabalho com atletas convencionais. O paradesporto já está em um nível profissional, os atletas precisam e querem é trazer resultados, trabalhamos visando performance. Nesse estágio, a maioria dos atletas já optou pelo esporte, consequentemente por desenvolver suas potencialidades e não olhar para o que está “faltando”.
Blog – A que você atribui o sucesso dos atletas paralímpicos brasileiros? Já que os recursos e acessos são escassos?
Dalila – Atribuo principalmente ao esforço e dedicação desses atletas, além disso ao trabalho serio do Comitê Paralímpico, bem como aos profissionais (comissões técnicas) que colaboram com o rendimento e bem estar dos atletas. Em relação aos recursos, já não acho que sejam tão escassos para muitos atletas, muitos deles vivem do esporte. Houve uma transformação muito grande no paradesporto pós os Jogos de Atenas, penso que isso aconteceu pelos resultados e pela mídia envolvida. Hoje em dia várias empresas importantes patrocinam nossos atletas.
Blog – Como se configura a participação de psicólogos do esporte no Comitê Paralímpico Brasileiro?
Dalila – Atualmente, cada modalidade escolhe e trabalha com seu psicólogo. Faz muito tempo que trabalho com a equipe de natação e configuramos o nosso trabalho desde o início do ano, acompanhando os atletas nas semanas de treinamento, onde observo os treinamentos, faço entrevistas e aplico instrumentos da específicos do esporte para o psicodiagnóstico, traçamos metas e construímos juntos as estratégias para atingi-las, aplico também um programa de treinamento mental dentro das necessidades e individualidades de cada atleta, onde ensino as técnicas mentais para aprimorar o desempenho. Acompanho competições importantes ao longo do ano, onde também dou continuidade ao programa, atendo individualmente e também faço palestras e dinâmicas de grupo. No atletismo também tem uma psicóloga, mas ela não costuma acompanhar os atletas nas competições. Acredito que “novas portas” irão se abrir para outras modalidades a respeito da psicologia do esporte.
Blog – Você esteve recentemente nos Jogos Paralímpicos de Londres. Contemos como foi seu trabalho por lá? E como se sentiu participando do maior evento esportivo do mundo?
Dalila – Fui a única psicóloga que esteve tanto no Parapan do Mexico 2011, quanto nas Paralimpíadas de Londres 2012. Foi bastante emocionante, apesar de estar em minha terceira Paralimpíada (Atenas 2004 e Pequim 2008), cada uma tem um “gostinho especial” e sua história única. Mais uma vez tivemos um excelente resultado, ficamos em sétimo lugar na classificação geral. É um feito inédito, é muito gratificante poder fazer parte dessa história. Primeiramente, estivemos em Manchester para aclimatação, lá fiz trabalhos individuais e em grupo, acompanhei a equipe em todos os treinamentos, já conheço os atletas e costumo fazer um acompanhamento psicológico (entre técnicas de treinamento mental e terapia dentro do âmbito esportivo objetivando que estejam em seus “pontos ótimos” para a competição). Existe muita sintonia entre a comissão técnica também e costumamos nos alinhar para atendermos melhor aos atletas. Em Londres, fizemos também trabalhos em grupo, já na reta final, e vários atendimentos individuais, alguns durante as competições. Prezo muito trabalhos em grupo para fortalecimento de vínculos e criação de identidade, mesmo sendo um esporte individual, sei da força que a equipe pode trazer para o resultado de cada atleta.
Blog – Os portadores de necessidades especias ainda sofrem muitos preconceitos em nossa sociedade. Para aqueles que desejam ingressar em alguma atividade esportiva, que dica você dá os mesmos?
Dalila – Infelizmente ainda existe desconhecimento e algum descaso por parte das políticas públicas em nosso país. Mas, acredito que estamos num processo de mudança, muito se deve ao esporte e a visibilidade que esses atletas têm. Eles são exemplos e inspiração para a sociedade, nos mostram como “encarar a vida” com outra perspectiva, passaram de “coitadinhos”a “heróis” pela sua forma de ser e modo de agir. Com isso tudo, as “portas se abrem” e são criadas novas perspectivas para o portador de necessidade especial e uma forma diferente da sociedade enxergar essas pessoas.
Para quem deseja ingressar no paradesporto, sugiro buscar associações e entidades específicas para cada deficiência.
Blog – Comente um pouco sobre o impacto de exercícios físicos na vida das pessoas portadoras de necessidades especiais?
Dalila – O esporte proporciona as pessoas com necessidades especiais mais saúde, melhor qualidade de vida, melhora da autoestima, possibilidades de se integrarem, se socializarem e de se divertirem. É uma forma de focar em suas potencialidades e novas possibilidades, de focar na VIDA e nos aspectos positivos da mesma. Só vejo benefícios!
Blog – Nos dê dicas de leituras, sites, pesquisas, vídeos para ampliarmos nosso conhecimento sobre o tema.
Dalila – sites: http:/www.cpb.org.br
http://www.brasil.gov.br/sobre/esporte/esporte-paralimpico
Pesquisas e notícias:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbme/v8n4/v8n4a05.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Paraol%C3%ADmpicos
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2012/paraolimpiada/
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1807-55092009000400006&script=sci_arttext&tlng=es
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/KMCG-7NRLD8/1/diserta__o_qualidade_de_vida_definitiva.pdf
http://www.bonscursos.com/down/basquete.pdf
Livro: Educação Física e esportes adaptados – Joseph P. Winnick
Contatos para mais informações com Dalila Ayala – daliayala@hotmail.com
site: www.dalilaayala.com.br
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Abraços
Até!!!
Li a entrevista de Dalila ja conheço pessoalmente , foi minha psicologa na Équipe Labex Unicamp é uma pessoa querida por todos nós da Équipe Labex
Parabéns Dalila vc merece.
Obrigada atleta querido, é uma alegria ver seu comentário. A equipe da Unicamp estará sempre em meu coração. Eternamente na torcida por vocês!!