Dando continuidade a série de entrevista (Quem faz a Psicologia do Esporte?), o blog teve a oportunidade de conversar com *Marta Aparecida Magalhães de Sousa, psicóloga do esporte da arbitragem da CBF. É importante salientar que a psicologia do esporte pode contribuir para os outros agentes envolvidos com a competição. A arbitragem é um elemento primordial para tal e carece de intervenção especializada.
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Blog – Qual a sua formação profissional.
Marta: Sou formada em Psicologia, fiz algumas especializações: na área Clínica em Gestalt-Terapia no Instituto Sedes Sapientiae, nessa mesma instituição fiz a especialização em Psicologia do Esporte. Na área escolar fiz especialização no Instituito Pieron em Psicologia Escolar, orientação educacional e vocacional.
Blog – Comente sua trajetória no trabalho como psicóloga do esporte da arbitragem. Em quais instituições trabalha?
Marta: O Trabalho como Psicóloga do Esporte, iniciou no Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo em 2004, em 2005 avançou com a Ginástica Artística no Ginásio Bonifácio na Cidade de Guarulhos, em 2007 iniciamos junto aos árbitros da Comissão Nacional da Arbitragem (CBF), trabalho processual junto ao quadro de árbitros e árbitros assistentes de todo o Brasil.
Blog- Quais as estratégias você utiliza no desenvolvimento de seu trabalho?
Marta: Os trabalhos realizados junto à arbitragem aparecem em três momentos:
1- Nos treinamentos, no hotel, no vestiário, antes, durante e depois da partida de futebol.
2- Na sala de aula, nos trabalhos cognitivos, nos cursos de aprimoramento.
3- No setting terapêutico (intervenção clínica).
Os principais pontos trabalhados para prática da arbitragem de futebol, são: auto – observação, condutas internas e externas, auto – registro. As Habilidades Psicológicas que procuro desenvolver (concentração, atenção, tomada de decisão). O autocontrole (controle respiratório, estresse e ansiedade, comunicação, confiança, coesão, atenção e prática mental). Trabalhar a motivação, ativação, relaxamento e prevenção do esgotamento são outras estratégias importantes para a arbitragem.
Blog- Como é atuar com árbitros de futebol, que são monitorados por várias câmeras, julgados por comentaristas “especializados” e com tolerância mínima para erros.
Marta: A atuação Psicológica junto aos árbitros de futebol é realizada de forma ética, e discreta, dentro dos padrões do contexto esportivo, que tem o homem como centro da modalidade escolhida, e busca de auto suporte. Quanto às várias câmeras, comentaristas, e outros; trabalhamos com a observação, percepção, comunicação visual, e com os treinos de aprimoramento que habilita o árbitro a ser protagonista de ações autônomas, de forma que ele cumpra da melhor maneira a aplicação das regras no ato da decisão.
Blog – Quais as principais queixas dos árbitros? Como você lida com essas demandas?
Marta: As principais queixas dos árbitros são: pressão (público, jogadores, treinadores, mídia), ansiedade, estresse. As dificuldades nos treinamentos, números de horas que se dedicam aos aspectos físicos, técnicos e psicológicos; na maioria das vezes tendo que trabalhar em outras Instituições para garantir seus rendimentos mensais, a distancia da família, o teste físico e dificuldades nas Federações, o nome fora da escala, à perda no sorteio, dentre outros.
Blog – Imagino que o nível de estresse de árbitros e assistentes seja muito elevado. Que tipo de estratégia você utiliza para auxiliá-los?
Marta: Nós trabalhamos as queixas singulares, e as que ecoam no grupo. Criamos também dentro do grupo o momento hetero-suporte (apoio ambiental com inúmeras trocas, apoio familiar, apoio da categoria, noção de pertencimento a um grupo com as mesmas demandas, entre outras vivências compartilhadas). Normalmente o árbitro percebe que carece trabalhar o seu auto-suporte, ele busca mais comprometimento com o presente, com o aqui-agora (foco, concentração, em seus treinos diários). Á medida que seu treino vai se efetivando, sua concentração torna-se hábito, isso faz com que a confiança, segurança, motivação, amplie as possibilidades frente às tomadas de decisão, e essa sensação contempla a satisfação do homem árbitro.
Quanto ao nível de estresse elevado, se for antes do jogo, procuramos descobrir o que levou ao estresse, quais as formas de lidar com ele, quais as possibilidades de reduzi-lo. E se acontecer durante a partida de futebol, o árbitro treina a mobilização do foco no aqui-agora, através da respiração, monologo interno, pensamentos positivos para dar continuidade às tomadas de decisões até o final do jogo. E no pós-jogo trabalhamos o fato que desencadeou o estresse, através de vídeo, relaxamento, entre outros procedimentos.
Blog – O trabalho de preparação psicológica com arbitragem ainda é pouco explorado. Que dica você dá para os psicólogos do esporte que desejam trabalhar com arbitragem?
Marta: As dicas que posso dar aos psicólogos do esporte que desejam trabalhar com arbitragem: é em primeiro lugar ter a Profissão da Psicologia pautada no código de ética do seu Conselho Federal, depois ser acompanhado do pensamento clínico da visão de Homem, e das noções do processo de formação do Homem nesta categoria, além de procurar compreender o universo da Arbitragem, e se manter o máximo possível na discrição, pois o futebol no Brasil tem a paixão impressa na sociedade, e neste sentido a população não conhece os pormenores das regras do jogo (17 regras do livro de regras da CA/CBF) no qual o árbitro pauta suas decisões.
Quando você pergunta se o trabalho de preparação psicológica é pouco explorado. Posso afirmar que isso se da por questões estratégicas. A Comissão Nacional de Arbitragem através do Presidente e seus membros, esta trabalhando diariamente as formas de aprimoramento dos árbitros, em conjunto com os quatro Pilares: Físico, Técnico, Social e Psicológico, todos eles trabalham de forma discreta, integrada, e sem nenhum tipo de comentário. É ainda, de conhecimento do publico que a arbitragem é uma categoria que não aparece em imprensa, não se destaca em nenhum momento do seu trabalho, a não ser em polêmicas inflamadas de comentaristas, torcedores, treinadores etc. Sendo assim, o Psicólogo que normalmente trabalha sem ser percebido no cotidiano de sua profissão, no caso da arbitragem, ele é ainda mais cuidadoso, evitando comentar, ou evidenciar o trabalho realizado.
Acredito que o trabalho psicológico na arbitragem, muito tem a acrescentar, e que existem hoje inúmeros treinos realizados, uma infinidade de trabalhos envolvendo esta categoria, que poucos conhecem, e somente quando conhecem se dão conta da seriedade e exigência deste elemento fundamental para qualquer modalidade esportiva. A Psicologia do Esporte nesta área tem muito há fazer. Meu sonho é que cada Federação possa ter seu Psicólogo trabalhando seriamente nos treinos semanais, e possamos trocar os possíveis manejos que ajudem aos árbitros a fazer o seu trabalho assertivo, e serem reconhecidos na sociedade com o respeito que merecem.
Blog – Dica de leitura, site, cursos etc, que deseja divulgar com os leitores do blog.
Marta: Os livros que indico são: Livro de regras da Arbitragem, Fundamentos da Psicologia do Esporte (Weinberg & Gold), Em busca da Excelência (Terry Orlick), e tantos outros interessantes da Psicologia do Esporte. Temos também artigos, filmes, que contribuem com o trabalho. Contamos ainda, com a Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, que promove cursos, encontros com diferentes Profissionais da Ciência do Esporte e da Psicologia. Aproveito a oportunidade para divulgar o III Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte da ABRAPESP, onde irei ministrar um curso de Psicologia da arbitragem nos dias 13 e 14 de Novembro, convido todos os interessados a participar desse evento.
* Marta Aparecida Magalhães de Sousa – CRP 06/ 24.728-1
Psicóloga Clínica – atua em consultório (Guarulhos) desde 1986.
Psicóloga Escolar e Pedagoga – atua como Professora e Orientadora de Estudos na Escola Tempo Integral (Guarulhos) desde 1987.
Psicóloga Esportiva – atua como Psicóloga convidada (CBF) desde 2007
Email para contato: martaapmagalhaes@yahoo.com.br
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Abraços.
Até!!!
Muito legal essa entrevista, me parece um trabalho sensacional e de extrema importância. É bom demais saber que a psicologia do esporte esta crescendo a cada dia.
PARABÈNS DRA. MARTA, o seu trabalho é muitooo bom.
BJOS Sucesso
ADOREI A ENTREVISTA!EXCELENTE PROFISSIONAL