Dando continuidade a série de entrevistas, “Quem faz a Psicologia do Esporte?” O blog conversou com o colega e especialista em lutas, Rubens Costa. Confira!!!
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“a resistência que tenho constatado relativa ao trabalho da área da psicologia do esporte se dá por parte de treinadores esportivos jurássicos amedrontados com a perda do poder e espaço, que se acham super poderosos acreditando que sozinhos podem ter a solução para todos os problemas”
Blog – Conte-nos sobre sua formação profissional.
Rubens: Cursei Administração de Empresas, em seguida Psicologia e por fim fiz 2 anos de Mestrado em Psicologia Social, tudo isto nos anos 70 e 80.
Blog – Quanto tempo atua na psicologia do esporte?
Rubens: Nos últimos 12 anos tenho trabalhado na área da Psicologia do Esporte especificamente com lutas como Boxe, MMA (Artes Marciais Mistas), Muay thai, Kick Boxing e Luta Olímpica, atendendo treinadores e atletas amadores e profissionais de alto rendimento esportivo.
Blog – Como e quando iniciou seu trabalho na Confederação Brasileira de Boxe?
Rubens: Desde os anos 70 comecei a ter interesse por esportes de lutas em geral e em particular apreciava o boxe, primeiro como torcedor depois por longos anos como juiz nacional e internacional. Formado em Psicologia trabalhei inicialmente nas áreas Clinica e Organizacional e no inicio do ciclo olímpico 2000-2004 fui contratado pela Confederação Brasileira para iniciar um trabalho de preparação psicológica para atletas de boxe.
Blog – Comente sobre sua atuação com os boxeadores. Quais principais estrategias utiliza? Existe algum tipo de resistência ao seu trabalho?
Rubens: Vamos dividir em partes a resposta. Atletas profissionais que nos contrata diretamente, evidentemente, não há resistência, pois eles identificam a necessidade da preparação psicológica, nos procura e iniciamos o trabalho. Quanto ao lutador amador, quando ele nos procura por sua livre iniciativa, também não temos resistência alguma. Quanto ao trabalho desenvolvido via alguma entidade esportiva que nos contrata e portanto passa a ser um serviço disponível ao lutador , uso como quebra da resistência, dizendo que não há nenhuma obrigatoriedade de participar do processo de preparação psicológica se não acreditar que é importante para a sua vida como atleta e pessoa e se nunca sentiu nenhuma pressão , medo, raiva , insegurança , insônia, depressão em caso de lesão, ansiedade e outros fenômenos antes e durante uma luta. Bem desta forma não tive ao longo de anos praticamente nenhuma resistência com lutadores, muito pelo contrário.
A resistência que tenho constatado relativa ao trabalho da área da psicologia do esporte se dá por parte de treinadores esportivos jurássicos amedrontados com a perda do poder e espaço, que se acham super poderosos acreditando que sozinhos podem ter a solução para todos os problemas. Por outro lado vejo uma nova geração de profissionais esportivos atualizados e inteligentes que exigem e se unem a grupos multidisciplinares para maximizar os rendimentos de seus atletas e de suas equipes gerando resultados surpreendentes. Infelizmente aliados a profissionais desatualizados e ultrapassados ainda se encontram dirigentes esportivos envelhecidos pelo enorme desgaste de energia e centralização de seus esforços na busca de formas de concessões e de elaborações de acordos que os fazem perpetuar no poder, relegando o apoio técnico ao atleta ao menor grau possível na lista de suas prioridades administrativas , ignorando infantilmente a importância do Psicólogo dentro de uma equipe multidisciplinar.
Blog – Como você vê o fenomeno do MMA no Brasil? Porque o Brasil vêm se destacando nesse estilo de lutas?
Rubens: Na minha visão o MMA pode ser definido como um esporte que se propõe a ser a síntese das artes marciais atraindo atletas das diferentes artes, portanto significando uma evolução esportiva no campo das lutas. O Brasil é o berço do MMA e celeiro de excelentes atletas especialmente aqueles praticantes de jiu-jitsu e muay tai.
O lutador brasileiro de MMA já de algum tempo adquiriu um status mundial de excelência técnica apesar da pouca divulgação na mídia brasileira por enquanto. O Brasil tem uma tradição na pratica de esportes de lutas. Há milhares de academias e centros esportivos com milhares de praticantes das diversas artes marciais como boxe, judô, tae-kwon-do, muay tai, jiui jitsu, kick boxing, caratê, luta olímpica entre outros, o que gera uma grande massa critica de lutadores para a pratica do MMA possibilitando uma migração de cada esporte de luta, eminentemente amador para o MMA um esporte de multi-habilidades e essencialmente com objetivo profissional.
Blog- Muitas pessoas associam lutadores em geral a pessoas com alto grau de agressividade. Você concorda com isso?
Rubens: Compreendo esta associação, na medida em que no esporte de combate o lutador utiliza o contato físico como elemento de superação de seu oponente. O contato físico passa por “golpes” que dentro de toda a formação educacional das pessoas o ” bater” , sem duvida, significa agressividade. Mas quando levado ao esporte de lutas, que é um dos mais antigos da humanidade, que exige tática, estratégia, técnica, preparação psicológica, cumprimento de regulamento esportivo, resistência entre outras várias habilidades, a leitura do “golpear”, enquanto atividade esportiva tem outra conotação, apesar da similaridade visual com a agressividade física rejeitada por todos na vida cotidiana.
Disciplina, concentração, autocontrole, coordenação, pensamento tático entre outras exigências são fatores imprescindíveis para um lutador ser bem sucedido e isto não tem nenhuma correlação com agressividade. Lutador com traços pessoais predominantes de agressividade, raiva, ódio, vingança, magoa não consegue ser atleta de alto rendimento esportivo, mas a pratica dos esportes de combate, ao contrario do senso comum, reduz a agressividade de seus praticantes.
Blog- Dê acordo com sua experiência existe algum tipo de “comportamento padrão” entre os lutadores?
Rubens: Padrão eu diria não, pois tem os aspectos ligados a singularidade de cada lutador enquanto individuo. Mas o esporte de combate onde o contato físico é sua característica principal encontramos alguma concentração de componentes psicológicos similares entre os lutadores. A pressão, ansiedade pre competitiva e superação de adversidades sempre estão no “podium”.
Blog- A filosofia das Artes Marciais podem ser um facilitador para o desenvolvimento do trabalho psicológico?
Rubens: Na filosofia das artes marciais a concentração e a disciplina são elementos de destaques entre outros. Nos esportes em geral e especificamente nas lutas, a harmonia entre mente e corpo, disciplina e concentração são prioridades a ser trabalhadas em qualquer processo de preparação psicológica. A filosofia das artes marciais, sem duvida, é um facilitador na preparação psicológica.
Blog – Nos indique bibliografia, sites, cursos e afins.
Blog: Com o advento da Internet as fontes para atualização profissional a cada dia se multiplicam de uma forma impressionante. Estudos, artigos, teses, livros, pesquisas são encontrados com facilidade em diferentes fontes.
Tenho usado o “google alerta” que me avisa diariamente o que está acontecendo na área a nível nacional e internacional para que eu possa ir atrás com mais profundidade. Tenho acessado sites de Sociedades Nacionais e internacionais de Psicologia do Esporte de diferentes países buscando atualizações nos esportes de lutas.
Aquisição de livros facilmente se consegue via Amazon.com, intercâmbios com profissionais em competições internacionais, youtube, o bem conhecido www.efdeportes.com também são fontes interessantes e úteis. A cada dia eu diria que a atualização profissional se dá por um click.
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Para contato com Rubens Costa, envei email para: suporte@investimentohumano.com.br
Abraços.
Até!!!
Parabéns a Rubens Costa pelo trabalho e explanação sobre esse tema polêmico que é o MMA.
Concordo plenamente com a condição técnica do esporte na qual técnica e condicionamento físico são inteiramente relevante para a prática dessa modalidade. Gostaria de salientar também que, as regras propostas para o MMA valorizam a integridade física dos atletas tornando o esporte seguro.
Outro aspecto relevante é o público que aumenta a cada dia que passa, popularizando a luta e atraindo mais e mais espectadores. Neste sentido observo a crucial importância de formação de ídolos com integridade moral e ética para o exercício de uma liderança indireta e uma influência benéfica com demonstração de disciplina, perseverança, objetivo, entre outras coisas. Acredito que este trabalho de formação e orientação sobre esta “liderança indireta” para os atletas seja, também, função do Psicólogo do Esporte para que não vejamos mais casos como o do goleiro Bruno e Adriano.
abraço,
Ednei Sanchez
psicólogo esportivo
educador físico
mestre em ciências da saúde