O texto de hoje é uma colaboração do colega, Yan Cintra*, que nos relata sobre as principais demandas psicológicas de atletas que praticam Ginástica Artística.
A Ginástica Artística é uma modalidade muito específica, principalmente pensando em aspectos psicológicos. Há exigências de “alto rendimento” em atletas em fases de “iniciação esportiva”, pois começam a treinar muito cedo, aproximadamente com 5 ou 6 anos de idade e podem ter seu auge na carreira ainda na adolescência. Sendo assim, pensando nos fatores psicológicos é inevitável se atentar aos aspectos de maturação e desenvolvimento físico que ainda estão em plena ascensão.
As competições na ginástica artística possuem o tempo aproximado de 39 segundos de duração, são realizadas em diferentes aparelhos, sob um conjunto de exercícios e elementos e separadas em competições femininas e masculinas. Essas apresentações, apesar de terem uma pontuação por equipe, são computadas individualmente, fazendo com que ocorra em consequência disso, muita pressão para um boa performance e gerando também muita ansiedade.
Outro aspecto psicológico muito importante a ser trabalhado na Ginástica Artística, são as relações de grupo. Mesmo sendo uma modalidade individual, entretanto, os atletas treinam juntos diariamente, convivendo muitas horas. Às vezes ocorrem conflitos e outras situações geradas pelo convívio frequente. Para se trabalhar com os aspectos, utilizo as “dinâmica de grupo”. As dinâmicas podem focar o trabalho em muitas direções: na cooperação, no respeito, na comunicação, nas diferentes lideranças, nas resoluções de conflitos, na identidade da equipe, etc.
Esse esporte exige movimentos de alta complexidade e risco em um período de tempo muito curto, já que demandam muita flexibilidade, coordenação motora, força e equilíbrio. As quedas dos aparelhos são comuns nos treinos e nas competições. Sendo assim, principalmente nos atletas mais jovens, lidar com o medo e com a ansiedade extrema é uma situação frequente, e certamente é uma das principais demandas da ginástica artística para atuação do psicólogo do esporte.
Mais um aspecto fundamental a ser citado é a “rigidez” dessa modalidade, ou seja, a perfeição na execução de determinados conjuntos de movimentos complexos. Diferente de outras modalidades, em que quanto melhor o desempenho do atleta, mais pontos são somados, na Ginástica Artística os erros é que são evidenciados, a exigência de movimentos e execuções perfeitas, faz com que pontos sejam descontados em cada queda, desequilíbrio, desarmonia. Portanto, é inevitável que nos treinos essa rigidez também seja transferida. Nesse sentido, o psicólogo do esporte acaba se deparando com situações de técnicos exaltados e atletas frustrados com sua performance cotidianamente.
As intervenções com os técnicos acabam sendo fundamentais para uma melhor comunicação com os atletas, como também para melhorar o clima dos treinos, diminuindo conflitos e propiciando o desenvolvimento da motivação da equipe. É fundamental criar uma boa relação com toda comissão técnica para que o trabalho seja respaldado. É muito importante acompanhar treinos e competições. Essa aproximação também facilita conhecer a cultura da modalidade, aspecto fundamental para uma boa comunicação com os atletas, seus pais e com os colegas de equipe profissional.
Algumas demandas “externas”, como por exemplo, família, escola, relacionamentos afetivos entre outros aspectos da vida dessas crianças e adolescentes, também podem ser focos da atuação do psicólogo do esporte, pois geralmente estas demandas acabam interferindo em seu rendimento esportivo.
Ressalto que os bons resultados de um trabalho psicológico são verificados em longo prazo, principalmente, quando estamos atuando com crianças e adolescentes. Não podemos pular etapas nesse processo, já que, por exemplo, algumas técnicas utilizadas com atletas de alto rendimento adultos geralmente não são assimiláveis para o publico jovem. Portanto, é imprescindível conhecermos e respeitarmos cada fase do desenvolvimento das pessoas com que estamos atuando.
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Yan Cintra é formado em psicologia pela PUC-Campinas e especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Atualmente trabalha com a Equipe de Ginástica Artística do Clube Regatas de Campinas, com a Equipe de Ginástica Artística da Prefeitura de Campinas e com a Equipe de Ginástica Artística de São Bernardo do Campo.
Além disso, é psicólogo da Seleção Brasileira de Badminton, membro da diretoria da ABRAPESP e tem uma Consultoria, a Flow – Psicologia do Esporte.
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Abraços …
Até
Feliz 2015 !!!
muito legal isso
Muito interessante.
Muito bom o seu texto, Yan. Realmente, você conseguiu explicar muito bem em suas palavras, tudo o que precisamos tomar consciência para executar um bom trabalho em uma modalidade esportiva que exige tanto do ser humano, ainda mais por se tratar de atletas que ingressam muito cedo nesse esporte. Eu estou há 4 anos trabalhando com a equipe de ginástica artística de Brasília e tenho recebido muitos feedbacks positivos dos próprios atletas, técnicos e pais. Amo trabalhar com a ginástica!