O texto de hoje foi uma colaboração da psicóloga do esporte, Magda Martinez*. Ela nos conta sobre alguns aspectos relevantes em sua atuação com Natação.
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Para o psicólogo que trabalha com jovens atletas da natação é fundamental saber que por ser um esporte individual o atleta sofre muita pressão para alcançar seus tempos e metas. As rotinas de treino são intensas até para as categorias mais jovens. Apesar de longos treinos, na competição em si, muitas vezes as provas duram poucos minutos, algumas até mesmo segundos. Por isso, ser “forte mentalmente” é o objetivo de todo nadador e a diretriz de nosso trabalho.
A natação é um esporte que se difere dos demais, pois a partir do momento que o atleta entra na piscina, a comunicação com seu treinador fica limitada. O que já se torna uma variável que nós psicólogos do esporte não devemos descartar ao trabalhar com essa modalidade. A audição do nadador fica comprometida por estar debaixo d’água, dessa forma perde-se os feedbacks do técnico. Além disso, o tempo de descanso entre uma série e outra durante o treinamento, pode variar de 10 a 60 segundos. Esse é o único momento que o atleta consegue ouvir as instruções, trocar informações e socializar com seus companheiros de equipe.
O nadador muitas vezes é um atleta solitário. É comum o atleta de natação manter maior atividade mental enquanto nada, fruto de pensamentos e monólogos internos. Toda essa dinâmica de treino, traz poucas oportunidades de relacionamento com o resto do time. O trabalho do psicólogo pode ser voltado para atividades em grupo, envolvendo todos os atletas da equipe, para que com isso eles tenham mais tempo para se relacionar e se conhecer, dessa forma cria-se um clima positivo que trabalha a identificação, a identidade, a sensibilização e a percepção do outro.
O curioso de atuar com a natação e com a Psicologia do Esporte é a possibilidade de trabalhar tanto com o atleta individualmente, quanto com o grupo de atletas que dividem o mesmo espaço nas piscinas. Apesar da natação ser um esporte individual, os treinos são realizados geralmente em grupo, não podemos deixar de lado esses aspectos. O clima que é construído durante os treinos pode favorecer nos dias de competição. O atleta se sente pertencente a um grupo, ao qual ele está acostumado a treinar, mesmo que não seja a equipe que ele irá representar numa competição. Isso ajuda a favorecer a confiança nos companheiros, em si mesmo, e no trabalho que foi desenvolvido durante a temporada.
É importante trabalhar com a dessensibilização de todas as variáveis que interferem no desempenho dos nadadores. Ajudar no processo de “dominar” e controlar suas emoções, os atletas aprendem a discriminar e reconhecer seus comportamentos encobertos (pensamentos, sensações, sentimentos etc). Esse processo se inicia desde o cotidiano dos treinos até a hora que eles chegam aos locais das competições. Desde quando vão se posicionar ao balizamento, quando estão em cima do bloco momentos antes de saltar na piscina e também após o final da prova. Aprendendo a como se comportar nessas etapas os atletas se sentem mais confiantes, e consequentemente estarão mais concentrados e focados para alcançar suas metas.
Uma ferramenta que utilizo é o biofeedback, muitos ainda não conhecem esse instrumento. Trata-se de uma aparelho que mede padrões psicofisiológicos captada através de eletrodos os batimentos cardíacos e a condutividade da pele, ou seja, a resposta do organismo a situações diversas. É uma ferramenta eficaz para o controle dos comportamentos encobertos, por exemplo, causadores de estresse e ansiedade. O Biofeedback auxilia no trabalho terapêutico, pois mostra tanto ao psicólogo como também ao atleta em tempo real seu estado fisiológico. Por ser um instrumento que fornece reforço auditivo e visual, com softwares pré-instalados no computador, o atleta consegue perceber quando e onde seus comportamentos interferem no controle de suas emoções, ajuda-o a discriminar e reconhecer as sensações fisiológicas durante a sessão da aplicação. O nadador é colocado em situações causadoras de ansiedade que a partir deles treinará o autocontrole em conjunto com técnicas de respiração. O atleta concentrado fica mais motivado e consequentemente menos ansioso. Outra eficácia dessa ferramenta é o treino de foco e atenção, para tal ele necessita ‘evitar pensamentos’, contudo, precisará utilizar de respiração diafragmática e estará atento nessa tarefa e em suas sensações fisiológicas. Entretanto, quanto mais coerente o batimento cardíaco for com a respiração menos ansioso ele estará, consequentemente mais equilibrado para uma boa performance durante os treinos, nas situações pré-competitivas e principalmente durante a competição.
É muito importante para os atletas saber utilizar dos recursos disponíveis pela psicologia do esporte a seu favor, fazendo com que os mesmos possam ser um diferencial em sua carreira.
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* Magda Martinez: psicóloga (CRP 06/98931) formada pela Universidade Católica de Santos, atualmente cursa a Especialização em Psicologia do Esporte e Atividade Física pelo Núcleo Paradigma em S. Paulo. Trabalha na Target Sports One, que comporta o Centro de Treinamento Internacional de Natação, onde conta com 17 atletas, de 12 a 22 anos.
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