O futebol e a psicologia

Recentemente, mais um vez, atletas do futebol brasileiro compartilharam suas questões emocionais e de saúde mental. Estou me referindo ao Richarlison e ao Danilo.

O futebol e a psicologia

É importante para toda a sociedade quando atletas brasileiros, principalmente, do futebol que tem grande penetração em todas classes sociais comentarem abertamente sobre suas vulnerabilidades, sobre sua saúde mental e principalmente, sobre a importância de procurar auxilio psicológico especializado.

Nos últimos dias, Richarlison, atacante do Tottenham e da seleção brasileira com passagens pelo Fluminense, Watford e Everton, comentou em entrevista:

“Os jogadores precisam procurar um psicólogo. Antes eu tinha preconceito porque na roça onde eu morei é assim.”
“Me sinto 100% aliviado, posso desabafar e falar tudo com a minha psicóloga.”
“Às vezes a lesão e eu não sabia o porque, eu sempre tava preparado, treinando bem e vinha uma lesões nada a ver”.
“Os médicos me perguntaram se eu estava com problema em casa, com namorada, família. Eles pediram para eu procurar um psicólogo”.


Outro importante atleta a comentar sobre saúde mental poucos dias atrás, no canal do youtube, “A Casa do Saber” foi, Danilo, atualmente jogando na Juventus de Turim, a 10 anos figurando na seleção brasileira de futebol, com passagens pelo América-MG, Santos, Real Madrid, Porto e Manchester City. Portanto, um atleta de nível altíssimo com muita experiência e uma carreira em grandes clubes pelo mundo.

“A depressão e a ansiedade podem levar a inúmeras consequências negativas na vida daqueles que as enfrentam. Essas patologias estão presentes em todos os setores da sociedade, e no mundo do esporte não é diferente.
Os atletas, na maioria das vezes, são vistos como ‘super-heróis’, mas eles também lidam com emoções, sentimentos, problemas pessoais e frustrações”.

“É muito difícil que alguém esteja rendendo na sua máxima produtividade se a vida estiver ‘bagunçada’. Se a mente não conseguir administrar, da melhor maneira, todos os pontos da vida, isso certamente refletirá no desempenho dentro de campo. A psicologia vem para acalmar as nossas inquietudes”.

“Muitos atletas se perdem durante o caminho, pois o futebol tem o poder de proporcionar uma rápida mudança na vida dos jogadores, não só no aspecto financeiro, mas também em ternos de visibilidade e de pressão.”

Acredito sim que os profissionais de psicologia precisam estar disponíveis nos clubes para trabalhar. Entretanto, não deveria ser uma obrigatoriedade; isso depende mais de uma conscientização da comunidade futebolística. A partir, desse conscientização , creio que as coisas tendem a melhorar de forma mais orgânica, o que geralmente perdura mais do que quando é imposta e obrigatória.”

Outros casos

Vale relembrar que outras pessoas do mundo do futebol num passado recente já falaram sobre questões envolvendo sua saúde mental. É o caso do Ronaldo Nazário, em entrevistas e em um documentário sobre a sua carreira:

“Queria nessa época entender muito mais sobre saúde mental, porque teria me tratado e teria sido muito bom pra mim. Talvez o episódio de 98 não tivesse acontecido se tivesse um tratamento e um acompanhamento psicológico diário ou semanal. Acho que a única explicação que tenho sobre o episódio de 98 é esse estresse emocional absurdo que é uma Copa do Mundo”.

“Sempre tentava me isolar do mundo e tentar fazer meu melhor nos treinos, me isolar dos holofotes, porque era inevitável. Eu tinha que manter a minha concentração, meu foco. E não entendia absolutamente nada sobre saúde mental, que não era um assunto comentado na época. Tinham psicólogos nos clubes, mas eram mais motivacionais, não pra tratar uma pressão em cima de um atleta em um momento crucial como a Copa do Mundo”.



Thiago Ribeiro, atacante atuante atualmente com 38 anos, com passagens por grandes clubes brasileiros, como: São Paulo, Santos, Atlético-MG, Cruzeiro, entre outros, relatou diversas vezes sobre como enfrentou a depressão:

Essa foi a partida mais difícil que joguei, não digo na carreira, mas na vida. Essa depressão e opressão que passei na minha carreira não me afetou apenas no lado profissional, me atrapalhou em todas as áreas da minha vida

“Na época eu fui muito amparado pelos clubes, o Santos principalmente. Depois passei pelo Atlético-MG, Bahia e depois retornei ao Santos. Eu só falava o básico, não me abria muito sobre como estava. Eu tinha receio de as pessoas não entenderem, pensarem que estava de má vontade. Não é algo tão superficial para resolver, muitas vezes você jogando em alto nível, recebendo um bom salário e não entendem como pode estar tendo problema, não treinar um dia, não jogar, ficar afastado.

” Não é algo tão simples de lidar. Nunca me abri 100% para falar por não me sentir à vontade. Muitas vezes o jogador não se sente à vontade para se abrir e colocar o que pensa sobre a depressão, muito por não saber a reação. Percebo que hoje existe uma preocupação maior, mas ainda não é uma coisa fácil de lidar.”


Podemos citar outros casos recentes envolvendo questões referentes a saúde psicológica de brasileiros, como: Galhardo (Fortaleza), Alisson (São Paulo), Tche Tche (Botafogo), Everton Felipe (Sport), Pedrinho (ex-Palmeiras e Vasco), Cicinho (jogou no Atlético-MG, São Paulo e Real Madrid), entre outros.

Fora do país também tivemos a declaração do astro francês, Thierry Henry, sobre suas dificuldades emocionais na relação consigo quando atuava e com seu pai. Mesmo sendo extraordinário em times como o Arsenal, Barcelona e seleção francesa.

“Menti durante muito tempo porque a sociedade não estava preparada para escutar o que eu tinha a dizer” .

“Ao longo da minha carreira, e desde que nasci, devo ter tido depressão”, declarou. “Sabia disso? Não. Fiz algo para remediar? Não. Mas me adaptei a um certo modo de vida”.

“Chorava quase todos os dias, sem motivo”, afirma. “As lágrimas vinham do nada. Por quê? Não sei, mas talvez estivessem lá há muito tempo”


“A maior pressão da minha carreira foi colocar um sorriso no rosto do meu pai. Foi a coisa mais difícil que tive que fazer na minha vida. Um dia meu time ganhou e eu marquei seis gols. Estávamos no carro em silêncio. Pensei: ‘devo falar ou não?’. Ele me perguntou: ‘Está contente?’. Disse que sim. E ele disse: ‘Sim, mas não devia, porque perdeu aquele gol, errou aquele cruzamento…’

Diagnóstico, tratamento e prevenção

Quando falamos em saúde mental, transtornos emocionais e psicológicos dentro e fora do âmbito esportivo as únicas profissões capacitadas, qualificadas e chanceladas por conselhos de classe para diagnosticar, tratar e prevenir, são, os psicólogos (as) e os médicos psiquiatras. Fiquem atentos e tomem cuidado com “diagnósticos”, “formulas mágicas” e resultados mirabolantes de profissionais sem qualificação e respaldo cientifico. Qualquer trabalho e desenvolvimento psicológico consistente leva tempo, no esporte não é diferente.

Fecho esse texto com a citação do Danilo Luiz, em entrevista mencionada acima:

“Muitos jogadores não possuem estrutura suficiente para lidar com essa fama repentina e perdemos muitos talentos. Por isso, é crucial promover o trabalho dos psicólogos desde as categorias de base. Formar jogadores mais resilientes não só beneficia os atletas, como também traz vantagens financeiras para os clubes. É uma matemática muito simples”

Referencias:



https://www.youtube.com/watch?v=0Ss7r_P6UFU

https://ge.globo.com/sp/tem-esporte/futebol/noticia/2024/01/16/campeao-mundial-pelo-sao-paulo-diz-que-venceu-depressao-apos-oito-anos-partida-mais-dificil-da-vida.ghtml

***
Abraços !!!
Até…

1 comentário em “O futebol e a psicologia”

  1. Que interessante ver a relação entre o futebol e a psicologia explorada de forma tão profunda neste artigo! É fascinante como aspectos psicológicos influenciam tanto o desempenho dos jogadores e o resultado das partidas. Parabéns por abordar esse tema tão importante e elucidativo! ⚽️

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