O texto de hoje é uma pequena reflexão sobre os limites da atuação do psicólogo do esporte diante do sucesso de uma equipe esportiva e a prevenção de comportamentos.
Fico incomodado com a postura de alguns colegas que disseminam o pensamento de que a Psicologia resolve tudo, é a salvação da sociedade, esse tipo de conduta também acontece frequentemente na Psicologia do Esporte. Temos nossas limitações como qualquer outra ciência.
Nosso papel tem limites, não é porque uma determinada equipe esportiva possuí um psicólogo do esporte que estará fadada ao sucesso e as vitórias em todas as competições. Esse pensamento mágico e arrogante não existe. Pior ainda é ser difundido por quem supostamente trabalha na área e entende do assunto. Não somos a salvação do esporte, esqueça! Somos sim uma peça muito importante. As responsabilidades de sucesso de um grupo devem ser compartilhadas com uma comissão técnica coesa e interdisciplinar.
Suspeite se algum psicólogo prometer garantia de sucesso, resultados a curto prazo, isso é marketing de embromação. Qualquer trabalho sério e ético em psicologia só acontecerá em médio e longo prazo, mudanças consistentes demoram a acontecer, antes disso é amenização de sintomas. Psicólogos do esportes são capazes sim de desenvolver: a coesão, a motivação, a confiança, as lideranças, o foco de atenção, a concentração, a amenizar o estresse, a cuidar da saúde mental, etc.
O sucesso de uma equipe esportiva não se mede só com a conquista de títulos, em qualquer campeonato só haverá um vencedor, isso não quer dizer que todos os que perderam são incompetentes ou que não estavam ‘preparados’ psicologicamente para vencer. Certamente, que quanto mais equipes organizadas e com apoio de diferentes disciplinas melhor para o esporte, porém, o destino continuará nos pregando peças.
O Vasco da Gama e o Flamengo, são grandes referencias para a Psicologia do Futebol em nosso país, possuem equipes há mais de 20 anos trabalhando com atletas de base e de alto rendimento, é um modelo consolidado e nem por isso sempre são vencedores de todos os campeonatos que disputam. Uma série de fatores tornam um time vencedor. Muitas vezes equipes com todo o preparo físico, técnico, tático e psicológico sucumbem, ainda bem que o esporte é ainda imprevisível como a natureza humana.
Todos nós ficamos estarrecidos com o acidente aéreo, planejado pelo copiloto da Germanwings, Andrea Lubitz. Ele passou por tratamento contra depressão e burnout (segundo informações veiculadas na mídia) os médicos e psicólogos deveriam prever o comportamento suicida? Seriam capazes de impedir tal atrocidade? Impossível !!! Muitos comportamentos podem ser prevenidos, mas nem todos, infelizmente, essa é a realidade. Na vida como no esporte, existe o imponderável, nem todo comportamento humano pode ser compreendido, o ser humano é muito mais complexo do que nossa vã psicologia.
A Psicologia do Esporte é fundamental para qualquer equipe e comissão técnica, certamente, nosso papel pode auxiliar muito na evolução esportiva, porém sozinha não faz milagres. É leviano para a nossa área um colega ter a certeza de sua onipotência, é nocivo ao esporte e aos atletas esse tipo de conduta.
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Abraços.
Até!!!
Incrível reflexão! A abordagem sobre a onipotência no esporte é fundamental para compreendermos os desafios emocionais e psicológicos enfrentados pelos atletas. Parabéns pela profundidade e relevância do conteúdo! “