Psicologia nos esportes paralímpicos

Atualmente, atuo como psicólogo do esporte no SESI-SP, trabalhando com diversas modalidades paralímpicas, como Bocha, Goalball, Vôlei Sentado e Tênis de Mesa. Anteriormente, em 2019, tive a oportunidade de trabalhar com o Remo Adaptado em um projeto social na Raia Olímpica da USP. Não sou um especialista no assunto, mas quero compartilhar algumas reflexões sobre o impacto das modalidades paradesportivas no desenvolvimento humano, emocional e psicológico dos atletas, e também como essas práticas afetam seus familiares e pessoas próximas.

Psicologia nos esportes paralímpicos

O Brasil como Potência Paralímpica

O Brasil é uma potência nos esportes paralímpicos, frequentemente ocupando posições de destaque em competições internacionais. Porém, é possível fazer mais para fomentar e expandir o desenvolvimento do paradesporto no país. De acordo com dados da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (SNDPD/MDHC) e do IBGE (2022), há cerca de 18,6 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, o que corresponde a 8,9% da população. Esse é um contingente expressivo que merece atenção e inclusão.

O Capacitismo e Seus Efeitos

O capacitismo, segundo a Fiocruz (2024), é uma das formas mais recorrentes de preconceito contra pessoas com deficiência. Esse preconceito se manifesta por meio de tratamentos diferenciados, formas de comunicação inadequadas, barreiras físicas e arquitetônicas, que impedem o pleno exercício da cidadania. O capacitismo é baseado em um padrão corponormativo — quanto mais distante desse padrão socialmente aceito, maior o preconceito enfrentado pela pessoa.

Por exemplo, pessoas com deficiência intelectual ou psicossocial, especialmente aquelas que não são oralizadas, são frequentemente vítimas de violência no Brasil (Fiocruz, 2024). Superar esse preconceito ainda é um desafio para a sociedade brasileira.

A Importância do Paradesporto

O paradesporto surgiu com o objetivo de reintegrar socialmente e resgatar a autoestima de soldados lesionados sem perspectivas de vida após acidentes, conforme Oliveira (2013). No entanto, no Brasil, muitas instituições de saúde ainda não incorporaram o paradesporto como uma estratégia complementar de reabilitação.

O neurologista Ludwig Guttmann (1976) já destacava que a prática esportiva poderia ser fundamental para pessoas com deficiência, ajudando a manter e melhorar suas capacidades físicas e mentais. O paradesporto tem três objetivos principais: ser um fator curativo, oferecer um componente recreativo e funcionar como um meio de reintegração social.

Desafios e Superações no Paradesporto

Psicologia nos esportes paralímpicos

Apesar dos avanços, a sociedade brasileira ainda demonstra aversão em relação às pessoas com deficiências físicas e intelectuais. A falta de acessibilidade nas cidades é um exemplo claro dessa hostilidade. Durante minha experiência acompanhando uma atleta a consultas médicas, percebi como o ambiente urbano de São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, ainda é hostil para pessoas com deficiência. O transporte público é pouco acessível, as calçadas são esburacadas e os elevadores nas estações de metrô não atendem a todos. Essa realidade dificulta não apenas a mobilidade, mas também a sociabilidade de qualquer pessoa com deficiência.

Aspectos Psicológicos dos Atletas Paralímpicos

Os atletas paralímpicos atuam em alto rendimento e buscam excelência em suas rotinas de treino, levando seus corpos e mentes ao limite. Eles desenvolvem habilidades psicológicas essenciais, como concentração, foco, motivação e resiliência.

Pessoas com deficiência enfrentam desafios psicológicos adicionais, como a necessidade de aceitar um corpo novo e diferente e lidar com olhares e preconceitos. No entanto, os atletas paralímpicos não apenas superam esses desafios, mas também transformam suas experiências em simbolismo de força e superação. Superar obstáculos diários, como o transporte público e a falta de acessibilidade, são provas de resiliência e determinação.

Modalidades e Classificações no Paradesporto

Psicologia nos esportes paralímpicos

Cada modalidade paralímpica tem suas particularidades e critérios de elegibilidade. A Bocha, por exemplo, é destinada a pessoas com paralisia cerebral com comprometimento motor, e os atletas são classificados de acordo com o grau de comprometimento. O Goalball, por outro lado, é voltado para atletas com deficiência visual, que competem vendados para igualar as condições de jogo. O Voleibol Sentado é praticado por atletas com deficiências que afetam os membros inferiores ou superiores, e o Tênis de Mesa inclui tanto atletas andantes quanto cadeirantes com diferentes tipos de deficiência física ou intelectual. O Remo Adaptado classifica os remadores de acordo com o nível de mobilidade dos membros.

Considerações Finais

O paradesporto não é apenas um meio de inclusão social, mas uma poderosa ferramenta de transformação individual. Ele ajuda os atletas a desenvolverem não só habilidades físicas, mas também psicológicas, desafiando a sociedade a rever suas atitudes em relação à deficiência. Promover o esporte como um direito de todos é fundamental para garantir um ambiente mais inclusivo e acessível.

Referências

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Abraços!!
Até ….

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