O post de hoje é uma entrevista com Duncan Buck, diretor de comunicação do Skateistan, projeto social iniciado na cidade de Cabul que utiliza o skate como uma ferramenta educativa, de inclusão e empregabilidade.
Conheça um pouco dessa iniciativa fantástica e pioneira que está mudando a realidade de crianças e jovens afegãos, numa das regiões mais conflituosas do mundo.
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Blog – Conte-nos sobre a história da Skateistan?
Duncan: Assim que o skatista australiano Oliver Percovich aterrisou em Cabul, em 2007, ele foi cercado pelos rostos de crianças ansiosas de todas as idades que queriam que ele demonstrasse como andar de skate. Ele e uma colega improvisaram 3 pistas, “Ollie”, começou a dedicar-se à criação de uma pequena escola de skate no Afeganistão.
Um grupo de amigos skatistas afegãos compartilharam a utilização dessas três pistas e rapidamente tornou-se em um novo esporte entre os favoritos dos jovens naquela região. Tão breve, as crianças que estavam trabalhando nas ruas da cidade e as meninas afegãs começavam nas aulas de skate à tarde. O sucesso inicial com as crianças, fez “Ollie” prontamente pensar grande: trazer mais equipamentos e estrutura para Cabul e estabelecer um local de skate indoor. O projeto seria capaz de ensinar aos jovens muito mais, e também oportunizar as meninas mais velhas educação privada para continuar praticando skate. Em 29 de outubro de 2009, o Skateistan concluía a construção de um skatepark, incluído uma unidade de ensino em 5428 metros quadrados de terreno doado pelo Comitê Olímpico Nacional do Afeganistão. O interior do ginásio de skate foi graciosamente projetado com muitos tipos diferentes de rampas. O Skateistan surgiu como escola de skate no Afeganistão em primeiro lugar que se dedica a ensinar a crianças e jovens de ambos os sexos. Pretende construir instalações interiores e exteriores de skate em que os jovens possam se unir para andar de skate e compartilhar experiencias, assim, se forjam laços que transcendem as barreiras sociais. Aqui, eles são capazes de interferir em mudanças, em questões que são importantes para eles.
O Skateistan também se expandiu para um projeto no Camboja em 2011 e vai abrir uma segunda filial no Afeganistão na cidade de Mazar-e-Sharif, ainda este ano.
Blog – Quais são os principais objetivos do “Skateistan”? O que vocês desejam alcançar?
Duncan: Usar o skate como uma ferramenta para o empoderamento por:
• acesso à educação, focando especialmente em meninas e crianças que trabalham nas ruas;
• desenvolvimento de oportunidades de liderança;
• construir e consolidar amizades, a confiança e o capital social.
Blog – Quais foram as maiores dificuldades para implantar esse projeto?
Duncan: Qualquer novo projeto de auxílio precisa “ser comprado” pela comunidade em que está iniciando o trabalho, especialmente um esporte com meninas afegãs foi algo realmente novo. As crianças adoravam vir brincar de skate, mas a atividade era nova no Afeganistão. Dessa forma, inicialmente a equipe Skateistan passou muito tempo entre 2008 e 2009, em reuniões com as famílias, com os membros da comunidade e com os líderes religiosos para construir apoio para nossa iniciativa.
Blog – É muito interessante notar a inclusão de meninas na escola e nos esportes. Como vocês foram capazes de articular isso com as famílias? Tendo em conta que essa sociedade é extremamente machista?
Duncan: A igualdade de acesso à nossa programação é uma prioridade para o Skateistan, e a cada semana, mais de 140 meninas vêm para o skatepark em Cabul. As meninas são 40% de nossos alunos, e mais de 50% de nossos funcionários afegãos são do sexo feminino. Para alcançar tal acesso com as mulheres, precisamos trabalhar bem de perto com as famílias e fornecer meios que tornam mais simples para elas participarem. Além de professoras, o Skateistan emprega uma agente de apoio estudantil, não só para ajudar essas crianças a se matricular na escola, mas também para acompanhar o seu progresso individual. Para o ponto de contato entre o Skateistan, suas famílias e suas novas escolas, há o Diretor de Apoio ao Estudante que garante a essas meninas continuar a sua educação nos próximos anos. No Afeganistão, as meninas e as mulheres geralmente não são autorizados a transitar sozinhas. Devido a um sistema de transporte público limitado, extremo congestionamento, e assédio nas ruas, ficar na periferia de Cabul é muitas vezes perigoso. Sem o transporte para meninas, a maioria não poderia vir para a aula ou para nossas atividades. Assim, fornecemos um transporte seguro que supera uma das muitas barreiras que proíbem as mulheres no Afeganistão a poder ter alguma ligação com o esporte, educação e oportunidades de emprego.
Blog – Você pode medir o impacto sobre a vida das crianças e jovens atendidos pelo projeto? Existe algum exemplo que merece uma menção especial?
Duncan: Há tantas óbvias mudanças positivas na atitude, conhecimento, habilidade e aparência em todos os jovens que temos trabalhado nos últimos quatro anos. Ao aderir ao Skateistan, eles se conectaram a uma comunidade que ensina a confiança e o respeito, onde são valorizados como indivíduos. Eles são encorajados a ser criativos em uma cultura onde a memorização é a norma, e assumir a responsabilidade pelos problemas que eles enfrentam em vez de esperar por alguém para resolvê-los. Nossos participantes incorporaram esses valores e se tornaram mais felizes, membros mais valiosos na sociedade através de seu engajamento na comunidade, aprenderam capacidades de liderança e atitudes positivas. Os exemplos mais claros são os alunos que já se tornaram professores do Skateistan, na sala de aula ou no skatepark, anteriormente eles estavam apenas trabalhando na ruas de sua cidade.
Blog – Além da cidade de Cabul, vocês também estão no Camboja. Há planos para expandir esse projeto a outros países? É fácil de ser replicado?
Duncan: Skateistan expandiu-se em Phnom Penh, no Camboja, em março de 2011 e nossa segunda unidade no Afeganistão está programada para abrir no início de 2013, que será localizado em Mazar-e-Sharif com capacidade de atender até 1.000 alunos por semana. Dessa forma, para o futuro próximo queremos nos concentrar na construção de nossas três instalações e solidificar a nossa educação e programas de artes criativas. A ideia do Skateistan é que os alunos que passaram pelo programa serão as pessoas que vão se apossar e expandir o Skateistan através de suas experiências pioneiras, das habilidades e oportunidades que oferecemos.
É claro que, a longo prazo, o Skateistan, eventualmente deseja expandir para mais países, mas por agora temos de nos concentrar no que já temos.
Blog – Gostaria de enviar uma mensagem especial para os brasileiros? Há adeptos apaixonados por esse esporte em nosso país.
Duncan: O apoio público ao Skateistan é fenomenal e nos permite dar passos ousados em nossa programação e produção criativa. Para continuar inovando precisamos de pessoas de toda a comunidade internacional para ajudar a aumentar a visibilidade social do Skateistan, nossos projetos e o impacto que nossas atividades têm sobre a vida dos nossos alunos. Uma forma poderia ser através de compartilhar os nossos curtas “Keeping Skateistan Rolling” (http://www.skateistan.org/keep-skateistan-rolling) vídeos com cenas que caracterizam os bastidores de nosso trabalho.
Para conhecer mais:
https://www.facebook.com/skateistan?fref=ts
Abraços.
Até!!!