Choque, comoção, tristeza intensa esse é o sentimento das pessoas no Brasil desde a última terça feira (29/11/2016). Uma tragédia sem proporção para o esporte nacional ocorreu diante da queda do avião que vitimou 71 pessoas dentre elas: jogadores, membros da comissão técnica, da direção da equipe da Chapecoense, tripulantes, assim como profissionais de imprensa e o ídolo de muitas torcidas o ex- jogador de futebol, Mario Sergio Pontes de Paiva.
Muitos de nós ouvimos falar do acidente aéreo envolvendo uma equipe de rúgbi uruguaia há 44 anos, conhecido com o “Milagre dos Andes”. Algumas pessoas conhecem a história do time do Torino que era a base da seleção da Itália que disputaria o mundial de 50, no Brasil, onde o avião que transportava a delegação bateu na torre da Basílica de Superga, no dia 04/05/1949 e vitimou todos os atletas. Nove anos depois a tragédia se repetiu com o Manchester United, bicampeão inglês 1956/57, oito jogadores, o técnico e dois dirigentes do clube morreram quando seu avião caiu em Munique. Infelizmente, outros acidentes fatais envolvendo equipes esportivas ocorreram. Porém, dessa vez, uma tragédia similar as anteriores aconteceu com os nossos compatriotas e a dor inevitável nos afeta nesse momento.
A Chapecoense é a caçula do futebol nacional, equipe que vêm a cada ano surpreendendo dentro e fora de campo. Já vêm ganhando admiradores e a simpatia fora das fronteiras de sua cidade e estado, por sua ascensão e alcançou o auge de sua história ao disputar uma final internacional, diante do atual campeão da libertadores.
Nesses dias que se seguiram após esse terrível acidente, muitos companheiros de trabalho que participaram de seleções nacionais e em grandes clubes esportivos, relataram e relembraram inúmeros episódios e situações que poderiam ter ocorrido acidentes trágicos em percursos entre cidades ou países em que a negligencia e ‘economia burra’ por parte de dirigentes foram evidentes. Quem vive o cotidiano do esporte conhece as dificuldades que atletas e comissões técnicas estão sujeitos a passar com relação aos meios de transporte, seja terrestre ou aéreo. Se no futebol que é a modalidade esportiva com mais recursos isso é corriqueiro, imagina as outras modalidades sem visibilidade e tradição? Com atletas adultos essa realidade é dura, imagina com os atletas de base? Falta de recursos, logística inadequada, calendário de competições apertados, muitos aspectos podem influenciar negativamente. Porém, só paramos para refletir sobre esse assunto quando acontece acidentes graves.
Ocorreram ao longo de todos esses dias muitas homenagens ao redor do mundo nos campos de futebol e em outras modalidades. A renda da partida entre Barcelona e Real Madrid será doada para a Chapecoense. Clubes nacionais querem emprestar jogadores sem custo para ajudar o time catarinense. No entanto, a maior e mais inesquecível delas foi proporcionada, justamente, pelo time que seria adversário na final da Copa Sul-americana, o Atlético Nacional de Medellín. Primeiramente, abriu mão do título, um gesto quase impensável de abnegação num esporte onde a competitividade, o individualismo e os negócios, beiram a loucura. Não contente com isso, num gesto ainda de maior grandeza, o clube abriu as portas de seu estádio para uma homenagem sem precedentes na história recente do futebol. Consequentemente nessa semana ganhou inúmeros fãs ao redor do planeta.
“É difícil traduzir em palavras tudo o que aconteceu em Medellín na noite desta quarta-feira. Por mais que estas linhas relatem os fatos carregadas de adjetivos, nunca elas irão conseguir atingir o nível dos sentimentos sobre o que se viveu no Estádio Atanásio Girardot. A atmosfera era de condolências, de respeito, de luto. Mas o afeto demonstrado pelos colombianos foi de uma singeleza singular. Altíssimas doses de empatia, de solidariedade, de compaixão. Sobretudo, de caráter humano….Se o Atlético Nacional ofereceu a taça da Copa Sul-Americana e tamanho tributo à Chapecoense, eles merecem em retribuição o título do Campeonato Mundial de Seres Humanos. Não são só os dois clubes que se tornam irmãos a partir de agora, mas os laços de fraternidade de brasileiros e colombianos que se fortalecem muito mais. O próprio caráter identitário sul-americano. E o que transborda é a gratidão a um povo que, mesmo lidando com a tragédia e resgatando os corpos, também conseguiu afagar nossos corações desta maneira, em intervalo tão curto. Todos somos verdolagas a partir desta noite de tanta emoção.” – Leandro Stein (site Trivela).
A Colômbia com tantas similaridades com o nosso país, uma nação irmã, de fronteira e de alma, com mazelas sociais bem parecidas com as nossas. A mesma raiz africana de parcela substancial de sua população, miscigenada, com sabores, cores e culturas ricas como a nossa. A mesma Amazônia, um país cheio de beleza e recursos naturais que também foi explorado pelos colonizadores europeus. Ter compaixão e empatia com a nossa tristeza só nós aproxima dessas incríveis pessoas. Todo brasileiro passará a ter um carinho especial por esse povo. O escritor colombiano, premio Nobel, Gabriel Garcìa Márquez, sintetiza bem o sentimento da comovente homenagem de nossos irmãos latino-americanos: “um verdadeiro amigo é aquele que pega na tua mão e te toca o coração.”
Será que precisamos de tragédias para nos tornar mais humanos? Ou para resgatar o que temos de melhor? Não deveria ser assim! Nossa sociedade tem demonstrado cada vez mais intolerância, indiferença, nossos quatro Poderes (Legislativo, Executivo, Judiciário e Midiático) estão em crise, talvez um sinal de esperança vindo de uma de nossas maiores paixões possa nos fazer refletir e principalmente mudar de comportamento.
O futebol nunca será somente um jogo. No esporte, principalmente nas modalidades populares estão envolvidos muitos aspectos socioculturais, afetivos-emocionais, de identidade grupal para além da pratica esportiva em si. Quem comunga conosco a paixão pelo esporte compreende a sua magnitude.
“O esporte pode transformar o mundo”, já dizia Nelson Mandela. Tenho certeza disso! Somos Todos Chape.
‘Vamo vamo Chapê ! Vamo vamo Chapê! É campeão, é campeão !!!
Referencias:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2016/12/1837334-superga-torino-e-medellin.shtml
***
Abraços !!!
Até …