Testagem, perfil, padrões de comportamento são temas corriqueiros e comuns na Psicologia Geral, no esporte não seria diferente, há uma ânsia por conhecer a mente do atleta ou de encontrar o “perfil ideal” de esportistas.
Particularmente, não sou adepto de tipologias psicológicas, creio que o ser humano é muito mais complexo do que qualquer tipo de determinismo. Por mais que se tenha controle das situações muitos comportamentos não podem ser previstos, no esporte inclusive, por que o componente emocional está presente a todo momento nas competições. As emoções nem sempre conseguimos controlá-las.
A avaliação psicológica é uma das etapas fundamentais para intervenção em Psicologia do Esporte e a aplicação de testes é apenas um componente dentro da fase psicodiagnóstica. Para a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 07/2003),
“a avaliação psicológica é um processo técnico-científico de coleta de dados, realizado com pessoa ou grupos, que tem por objetivo o estudo e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos resultantes da relação do individuo com a sociedade, utilizando, para tanto, de métodos, técnicas e instrumentos psicológicos. “
Para Rubio (2007),
“entende-se como avaliação psicológica no esporte o processo de psicodiagnóstico esportivo, cuja finalidade maior é o levantamento de aspectos particulares do atleta, ou da equipe esportiva, na relação com a modalidade escolhida ou praticada. Isso significa um conjunto de procedimentos que envolvem entrevistas, testes objetivos e projetivos, cuja a meta é determinar o nível de desenvolvimento de funções e capacidades para a prática esportiva ou atividades físicas e de lazer.”
Segundo Brandão (2007), ” o uso de testes é um dos maiores sustentáculos da Psicologia do Esporte e Exercício”. Partindo desse pressuposto, a manipulação de instrumentos psicológicos é corriqueira na atuação do Psicólogo no Esporte. Porém, no Brasil a validação é uma tarefa extremamente complexa, levando em conta planejamento, rigor cientifico e metodológico, características psicométricas, tradução, adaptação, adequação cultural para a população a que se destina.
De acordo com Borsa, Damásio e Bandeira (2012),
“há cinco formas de evidências de validade, que deveriam ser comprovadas para que um instrumento fosse considerado adequado para sua utilização, sendo eles:
a) evidências baseadas no conteúdo (representatividade dos itens do teste);
b) evidências baseadas no processo de resposta (processos mentais envolvidos na realização do teste);
c) evidências baseadas na estrutura interna (correlações entre itens e subescalas);
d) evidências baseadas na relação com variáveis externas (convergência com outras variáveis externas);
e) evidências baseadas nas consequências de testagem (consequências sociais, comportamentais e outras, de aplicação do teste).”
Pela Resolução 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia, há requisitos obrigatórios para o instrumento de avaliação psicológica ser aprovado. Entre eles, estão:
- especificação do constructo que o instrumento em questão pretende avaliar;
- caracterização fundamentada na literatura da área;
- evidências empíricas de validade, de fidedignidade e das propriedades psicométricas dos itens e
- apresentação de sistema de correção e interpretação.
Logo, todo instrumento de avaliação psicológica, antes de ser editado, comercializado e utilizado para fins profissionais, deve passar por um exame de suas qualidades psicométricas, realizada em nosso país pelo SATEPSI (CFP,2007).
Sabemos que existe a aplicação indiscriminada de testes psicológicos nas diferentes subáreas da Psicologia do Esporte sem o devido cuidado, inclusive, por profissionais com outras formações. Do ponto de vista acadêmico não há restrições para fins científicos do uso desses instrumentos por não psicólogos. No entanto, de acordo com Silva et al (2014):
“independente do método de avaliação utilizado, é importante ressaltar que é competência exclusiva de psicólogos realizarem uma avaliação psicológica, como estabelecido por lei. Peixoto e Nakano (2014) também alertam para a inexistência de testes psicológicos aprovados para uso profissional, validados para atletas, fazendo com que os profissionais optem por utilização de testes sem requisitos de evidências de validade e confiabilidade. Cabe esclarecer que os testes aprovados pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos [SATEPSI] – órgão do CFP que avalia os instrumentos psicológicos no país – não são apenas para uso em Psicologia Clínica. Nesse sentido, é importante considerar que, se um psicólogo do esporte emite laudos e pareceres a respeito de um determinado atleta, seja para equipe de dirigentes esportivos, ou mesmo para o próprio atleta, com base em instrumentos psicológicos, estes precisam ser creditados ou atestados pelo CFP, com base na Resolução n. 002/2003. Faltam, porém, discussões suficientes sobre os métodos de avaliação utilizados sejam ao longo da temporada esportiva, sejam em anos pontuais de grandes competições.
Para avançarmos consistentemente nesses aspectos, Brandão (2007) propõe, o desenvolvimento da Psicometria do Esporte, ou seja, a construção de instrumentos precisa ser mais moderna, baseada em aspectos mais próximos da realidade que permeiam o esporte:
“Nesse contexto, exigem-se habilidades para mensurar especificidades esportivas, com instrumentos aplicados individual ou coletivamente, em esportes de campo, ao ar livre, de pista, de piscina. Convém lembrar que esta questão da capacitação para trabalhar em Psicologia do Esporte não é uma preocupação nacional, mas também internacional.”
Ainda de acordo com Brandão (2007), com relação a cultura do atleta, a maioria das investigações sobre os fenômenos psicológicos no esporte não considera as diferenças socioculturais:
“os testes psicológicos quase sempre os dados coletados não se correlacionam com a performance esportiva. Muitas destas contradições encontradas são devidas a uma deficiência nos métodos de construção e validação dos instrumentos utilizados para o campo esportivo.”
Nossa área precisa investir com mais afinco na construção de métodos que viabilizem instrumentos mais precisos para o nosso auxilio junto aos atletas e comissões técnicas com validação, adaptação, fiscalização e autorizados pelos órgãos competentes. Temos a possibilidade de desbravar um amplo nicho de investigação. Sabemos que os testes psicológicos para muitos profissionais são mecanismos muito importantes no cotidiano de trabalho. Nossa prática precisar ser repensada, se não há testes liberados pelo CFP podemos estar sendo “ingênuos” e até “levianos” em promover e propagar esse conhecimento assimétrico para o nosso público alvo . Sugiro um debate amplo e sério, também a criação de grupos de trabalho junto aos Conselhos de Psicologia que possam estudar essa temática com a responsabilidade que ela merece e com a participação efetiva da categoria. Só assim, poderemos avançar !!!
Referências:
Conselho Federal de Psicologia – http://site.cfp.org.br/
A avaliação em psicologia do esporte e a busca de indicadores de rendimento (2007). Katia Rubio. Instrumentos de Avaliação em Psicologia do Esporte (2007). Luciana Angelo e Katia Rubio (org). Casa do Psicólogo.
Adaptação e validação de instrumentos Psicológicos entre culturas (2012). Borsa, Damásio e Bandeira.
A Psicologia do Exercício e do Esporte e seus desafios para o milênio (2007). Regina Brandão, in: Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício: teoria e aplicação.
Instrumentos de Avaliação em Psicologia do Esporte (2014). Silva et al. Estudos interdisciplinares em Psicologia.Londrina.
Problemas e perspectivas na utilização dos testes psicológicos em Psicologia do Esporte (2014). Peixoto, E. M., & Nakano, T. C. In C. R. Campos, & T. C.Nakano (Org.), Avaliação psicológica: Direcionada a populações específicas (pp. 201-232). São Paulo: Vetor Ed.
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Abraços!!!
Até …
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gostaria de obter mas informações sobre os teste no esporte
Boa tarde Mateus, veja em nossa plataforma http://www.mentalfut.com.br
Abraços