Ultimamente têm surgido novas iniciativas de projetos sociais que envolvem o esporte. Isso mostra de certa maneira o interesse de empresas, de instituições, organizações do terceiro setor, nesse novo “nicho de mercado”. O bordão e o senso comum é que o esporte educa, disciplina e forma pessoas. Será? Utilizar o potencial educativo do esporte não é tarefa simples, ao contrário, necessita da contribuição de diferentes áreas de atuação e não deve ficar restrita somente a Educação Física e ao Esporte. É necessário ser ampliada para outras disciplinas como, a Psicologia, a Pedagogia, a Sociologia, a Assistênica Social. Para possibilitar trabalhar o potencial humano de maneira integral e interdisciplinar.
Chegar com algumas bolas numa comunidade carente, selecionar algumas crianças e começar a jogar, qualquer que seja a modalidade. Não é sinônimo de educação pelo esporte.
De acordo com Silvestre e Marques (2007), ao realizar a mediação da relação destes indivíduos com os outros e com a sociedade em que estão inseridos, por intermédio da prática esportiva, os profissionais envolvidos devem ter claro que estarão contribuindo para o desenvolvimento global destes indivíduos em todos os aspectos: social, ao trabalhar as relações interpessoais; cognitivo, ao pensar nas assimilações e exigências feitas por uma orientação; motor, quando trabalha as habilidades específicas da prática; psicológicos, ao considerar as possíveis repercussões de uma prática inadequada, com os sucessos e fracassos experienciados frente à realização de determinada tarefa.esporte. Muitos projetos, as vezes, com boas intenções pecam na metodologia adequada e na falta de recursos, desde humanos, passando pelos financeiros e certamente científicos.
Se não tivermos cuidado, podemos reproduzir todas as mazelas sociais na prática esportiva, e então ao invés de auxiliar na educacão e formação de cidadãos critícos, reforçaremos comportamentos e atitudes inadequadas para o convívio saudável em sociedade.
É bom lembrar que muitas vezes o esporte foi utilizado por regimes totalitários como doutrinação. No Fascismo, no Nazismo, no Leste Europeu durante a Guerra Fria, nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil. Um dos caminhos escolhidos por muitos regimes para alienação das pessoas era utilizar o esporte como meio, como fim e como plataforma política-ideológica.
Para Silvestre e Marques (2007), a educação para formação integral, a educação para a cidadania e, conseqüentemente, a inclusão para a vida em sociedade, a participação deve ser o principio básico, o acesso à prática esportiva deve ser garantido como direito fundamental a todos conforme consta no Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA.
Segundo Delours (1996), um dos principais papéis reservados à educação consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ela deve, de fato, fazer com que cada um tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos indivíduos e das comunidades.
O papel do psicólogo do esporte no projeto social ainda carece de mais referencias tanto práticas quanto acadêmicas, já que a maioria do conhecimento é voltado para o alto rendimento.
A população em geral mal conhece o trabalho do psicólogo fora do âmbito clinico. Numa comunidade sem recursos essa situação é ainda pior. O que faz um psicólogo aqui numa instituição que trabalha com esporte? Esse é um questionamento recorrente. Qual é o fazer profissional do psicólogo do esporte nessa condição?
Por essas e outras demandas que o psicólogo inserido nesse contexto, não pode se ater somente as questões que permeiam o esporte. Conhecer o ambiente é essencial. Ter um olhar mais ampliado para questões que envolvem outras áreas e disciplinas é importante e muitas vezes fundamental para conseguir obter bons resultados.
Partimos de uma compreensão sobre o papel do psicólogo como ator social que deve contribuir, enquanto mediador do processo de construção e produção do conhecimento, estabelecendo espaços de troca com os educandos, buscando trilhar com eles caminhos pelos quais se percebam como sujeitos históricos capazes de (re) significar relações e investir em seu potencial humano, (re) construindo seus projetos de vida pessoal e social (Silvestre, Rubio, 2009).
No projeto social em que atuo ( Ação Social Rugby para Todos) cotidianamente me deparo com a “cultura das escolhinhas”, ou seja, o anseio da ascensão social mais fácil através do esporte. As famílias, as crianças, os jovens se espelham nos exemplos do futebol, nas histórias de sucesso dos Ronaldos, Adrianos e Cafús. Não deixa de ser legítimo esse anseio mas ele não é real e não é simples. O esporte de alto rendimento é para poucos não é para todos. Diante disso, procuro mediar a realidade com a idealização, tarefa difícil de lidar, ainda mais numa comunidade carente (em todos os sentidos que essa palavra pode ter).
Qual é, então, o papel dos projetos sociais de educação pelo esporte? Penso que é acima de tudo, promover o lazer, a recreação, a prevenção da saúde, dos bons hábitos, o “fair-play”, a cultura de paz, a inclusão social. Complementar a educação formal com o auxílio da escola e da família , formar pessoas conscientes de seus deveres e de seus direitos. E se diante disso, surgir um talento para alguma modalidade, por quê excluí-lo da possibilidade de experimentar o esporte na realidade competitiva?
Referências.
Delours, J. (org.) (1996). Educação um Tesouro a Descobrir– Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, Ed Cortez. São Paulo – SP.
Silvestre, F. (2007). Projetos Sociais em discussão na Psicologia do Esporte. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 1(1).
Silvestre, F. (2007) Responsabilidade Social do Terceiro Setor na mediação das parcerias Público Privados dos Megaeventos; in: Rubio (org). Megaeventos esportivos, legado e responsabilidade Social. Casa do Psicologo. São Paulo.SP.
Silvestre, F.; Marques, J.(2007). Compromisso Social na Prática; in: Rubio, K. (org). Educação Olímpica e Responsabilidade Social. Casa do Psicologo. São Paulo.
Silvestre, F., Rubio, K. (2009). Um jeito novo do jogar na medida: o futebol libertário. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte.2.
Abraços.
Até !!!
Muito interessante este artigo, esclarecedor, e parece que coloca para fora por nós, o que nós sentimos que está faltando nas comunidades caretes. Gostei muito. Estou fazendo um trabalho na faculdade sobre a psicologia do esporte nas comunidades caretes, porem estou um pouco perdida por onde começar, poderias me indicar um livro que possa me ajudar?
Desde já agradeço.
Abraços.
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Quero parabenizar pelo site e pelo conteúdo, estou fazendo uma pesquisa sobre Psicologia do Esporte além do esporte propriamente dito, e através da sua fala e teorias, pude perceber realmente o quanto a Psicologia do Esporte contribui de várias maneiras para/com o desenvolvimento humano, tudo isso ultrapassa as linhas das quadras, ultrapassa as regras de um esporte, pois permite o ser humano a refletir sobre suas potencialidades, dentro, e sobretudo, fora das quadras. Um grande abraço.