Esse artigo é diferente dos textos que costumo publicar nesse espaço. São reflexões pessoais tendo em vista a proximidade das eleições em nosso país. Publiquei em meu facebook particular um texto da colega psicóloga, Helenice Rocha ( http://sinpsims.com.br/por-que-nos-psicologos-temos-a-obrigacao-de-falar-sobre-bolsonaro/ )
Diante disso, obtive questionamentos pertinentes de colegas com uma visão oposta a minha e também a agressividade de ‘haters’ da internet, muito comum na atualidade. Portanto, pensando num posicionamento profissional e pessoal, gostaria de tecer algumas ideias e questionamentos.
Pode um profissional de psicologia se manifestar politicamente em redes sociais? O que diz nosso código de ética? Expor sua posição política e ideológica é uma contravenção ética, diante de um candidato que em seus discursos fere os Direitos Humanos? É possível ser totalmente isento e manter a neutralidade diante de convicções pessoais?
A liberdade de expressão está prevista no ( art. 5º, IV, da Constituição Federal). Nossa constituição também prevê que é crime difundir o discurso de ódio, racismo contra minorias (artigo 1º, III).
Nos Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Psicólogo (a) (https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-cfp-n-10-2005-aprova-o-codigo-de-etica-profissional-do-psicologo?q=10/2005) , consta:
“I – O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
II – O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III – O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural (…)”.
Continuando com nosso Código de Ética profissional. No “ Art. 2*. Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais; (…)”
Diante desses aspectos descritos acima, creio que a sociedade espera um posicionamento coerente por parte dos profissionais de psicologia. Acredito que alertar e questionar sobre o perigo de ideias que menosprezam a dignidade e os direitos humanos. Fazem apologia a torturadores, mentem, negam a história descaradamente. Perpetuam o empobrecimento cultural e propagam fake news aos montes é nosso dever como profissional que zela pela saúde mental propiciar essa reflexão. Nesse sentido, recorro a uma antiga nota do CRP-SP (http://crpsp.org.br/repudiobolsonaro/) para quem deseja se aprofundar um pouco mais.
Sei que o cenário político de nosso país no momento é frágil e extremamente polarizado. Qualquer manifestação que possa desagradar um ou outro lado do espectro político seremos taxados como defensor de A ou de B. Nessa ótica binária, não existe outros caminhos a não ser os extremos. Somos execrados como sem credibilidade. Porém, como psicólogo e cidadão não posso me omitir num momento tão delicado e importante para o futuro de nosso país. Não legitimo qualquer candidato que flerte com ideais fascistas. Toda categoria profissional age e se posiciona politicamente para defender seus interesses perante a sociedade. É totalmente diferente de fazer politicagem e panfletagem partidária como pode supor algum desavisado.
Qualquer cidadão brasileiro obviamente tem o direito de votar em quem acredita que represente suas convicções pessoais. Essa é a liberdade principal de uma democracia. O estado democrático de direito deve estar acima de qualquer candidato e de toda manifestação ideológica.
Não acredito em heróis e salvadores da pátria é infantil crer que um único ser é dotado de todas as condições para “salvar o país”. Uma sociedade civilizada se constrói com a participação de todos os cidadãos, não só cumprindo nosso dever cívico no dia da eleição, mas principalmente, fiscalizando e participando da política no cotidiano. Dá trabalho, é uma tarefa árdua, mas, é nosso dever se quisermos avançar rumo a um país melhor, mais honesto e justo.
Vote com consciência !
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Abraços …
Até!!!