O Blog comemora um ano de atividades. Agradeço aos 25.724 acessos até então, isso me motiva a continuar a divulgar a Psicologia do Esporte e partilhar as minhas idéias.
Para comemorar essa data segue um texto que foi feito em parceria com a Revista Tênis na edição de Dezembro de 2010, veja o link http://revistatenis.uol.com.br/Edicoes/86/artigo191853-2.asp
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Como ser um bom pai de tenista. Existe conduta adequada para os pais de jovens atletas? Será que eles podem torcer? Como devem se comportar em torneios? Qual atitude deve ser tomada diante de vitórias e derrotas de seus filhos?
Em seu livro, Andre Agassi dizia que odiava tênis, mas o pai o obrigava a jogar. Além disso, Mike Agassi não conseguia suportar as derrotas do filho e raramente conseguia lhe dar uma palavra de apoio moral depois delas. Ainda assim, Agassi se tornou uma lenda. As irmãs Williams são outro exemplo de como a obsessão de um pai pôde transformar as filhas em grandes atletas, mesmo através de métodos “pouco ortodoxos”. O controverso Richard Williams chegou até a pedir para Venus se aposentar quando ela entrou em má fase, por exemplo.
Mas, o caminho trilhado por Agassi e pelas irmãs Williams são exceções e não devem servir como exemplo de conduta para os pais. Tanto que muito mais comuns são os casos em que, diante do mau comportamento dos pais, os filhos acabam tendo problemas para evoluir no esporte (e na vida). Um dos exemplos mais decantados é de Jelena Dokic, que viu o destempero de seu pai, Damir, quase ruir com toda a sua carreira.
Infelizmente, não é incomum presenciar comportamentos inadequados de pais em competições acompanhando seus filhos. As atitudes erradas podem ir desde um destempero com seu rebento após uma derrota, até brigas entre pais de atletas por decisões de arbitragem etc. Será que os genitores que tomam esse tipo de atitude sabem o quanto e como estão influenciando seus filhos?
A Psicologia do Desenvolvimento já demonstrou que as atitudes dos pais em diferentes contextos irão influenciar os comportamentos dos filhos muito mais do que as palavras proferidas. Muitos comportamentos das crianças são aprendidos por simples observação e até por imitação de seus genitores.
Quando nascem, infelizmente as crianças não vêm com um manual de instruções de envolvimento nos esportes, e a maioria dos pais teve pouco treinamento em como ter sucesso com os filhos nesse contexto. Além disso, à medida que as crianças se desenvolvem e amadurecem, o papel dos pais no esporte muda.
Pesquisas verificaram que os pais podem desempenhar um papel altamente positivo e/ou negativo na experiência esportiva das crianças, adolescentes e jovens. O desafio é identificar as formas com que os pais podem afetar positivamente a experiência das crianças e encorajálos a empregarem essas práticas. Simultaneamente, deve-se verificar ações negativas e facilitar os esforços para eliminá-las.
Jovens atletas geralmente vivem duplas jornadas, com a pressão por bom desempenho no esporte e na escola.
Como tratar o adolescente?
Nem sempre a relação entre pais e filhos é harmoniosa. Principalmente na adolescência, as relações se tornam mais complexas, pois a criança está entrando no mundo adulto e, consequentemente, tendo mais autonomia. Alguns pais se queixam que seus filhos não conseguem manter resultados consistentes por um período longo. Mas é comum que os resultados oscilem em demasia nessa fase da vida. Trata-se de uma etapa vulnerável e de muitas transformações. Por que não seria também nos resultados esportivos?
Também é comum ouvirmos jovens atletas dizendo: “Jogo principalmente para agradar o meu pai”, ou “Sinto-me horrível quando perco uma partida e minha mãe não para de falar de meus erros na volta para casa”.
Mais raro é ouvir: “Motivei-me quando meu pai apenas me olhou e gesticulou algo bacana para mim. Aquilo fez com que eu melhorasse minha autoestima naquele momento”, ou “É bom saber que, ganhando ou perdendo, terei meus pais me abraçando ao final da partida. Isso me deixa tranquilo para continuar o meu trabalho”. Contudo, deveria ser assim.
Pais devem compreender que seus comportamentos influenciam
diretamente na evolução das crianças
Esporte não é só glamour
A maioria das pessoas só pensa na parte bela do esporte, no glamour, no dinheiro e na fama. No entanto, isso, na carreira de um atleta de alto nível, é raro. Comum é uma vida de privações, de momentos solitários longe da família e dos amigos. Situações que costumam ocorrer muito cedo na vida de jovens tenistas. A vida deles não é simples. Geralmente, eles se dividem em duplas jornadas. A primeira na escola, onde, muitas vezes, não têm tempo para se dedicar, mas são cobrados por um bom desempenho. A segunda, na modalidade. Então, sobra pouco tempo para tarefas diferentes, festas, namoros, amizades. Comum na vida deles é a pressão por resultados, o estresse, a ansiedade, o cansaço físico e mental.
Muitos atletas pulam etapas importantes do desenvolvimento emocional. Competição em demasia não contribui para um amadurecimento psicológico adequado. Não são todos os que conseguem se adaptar a essas situações. Nesses aspectos os pais deveriam ser o porto seguro de seus filhos e não geradores de mais angustias.
Se o pai entende do esporte que seu filho pratica, isso, às vezes, pode ser um agravante, por querer interferir nas atuações de uma comissão técnica. Com filhos de ex-atletas, essas situações podem ser piores. Suas carreiras podem servir de exemplos, mas não como diretrizes. Afinal, pais e filhos são pessoas diferentes e os momentos também não são os mesmos, as circunstâncias e as contingências da vida são outras. Cuidado, a trajetória de um familiar ex-atleta pode ser completamente diferente das necessidades atuais de um jovem iniciante.
A pressão de um esporte individual
Em esportes individuais, geralmente ensinamos os jovens a se esforçar ao máximo, aprender a controlar o estresse, competir sob pressão e testar o equilíbrio físico e emocional. Ao mesmo tempo, isso pode criar uma autocobrança que, se não tratada adequadamente, pode ser prejudicial.
Já nos esportes coletivos, o rendimento esportivo geralmente depende de uma cooperação entre diferentes atletas. Nos individuais, a pessoa não divide as responsabilidades com ninguém. Portanto, será que atletas jovens já não se pressionam em demasia?
O papel dos pais não deveria estar associado ao aumento de emoções negativas na vida esportiva de seus filhos. O ex-tenista Marcelo Saliola era uma grande promessa do tênis brasileiro no final dos anos 1980 e inicio da década de 1990. Ele, porém, abandonou a carreira aos 17 anos e, em entrevistas, comentou que as principais razões foram psicológicas e emocionais, muito devido às pressões e exigências do esporte e de familiares.
Essas questões, no entanto, não estão restritas ao tênis. Cenas lamentáveis ocorreram no mundial de natação em 2007 na Austrália. O técnico ucraniano Mikhail Zubkova, pai da atleta Kateryna Zubkova, de 18 anos, foi flagrado por câmeras agredindo sua filha após ela não conseguir índice para a semifinal de uma prova. Como deve ter ficado a relação entre eles após esse episódio? Que repercussão emocional esse acontecimento refletiu na vida dessa atleta?
Dicas de comportamento para os pais
– Concentre-se fundamentalmente na maneira como seu filho jogou e não nos resultados das partidas. Premie o esforço e o trabalho duro antes do êxito. Faça com que seu filho se sinta valorizado e reforce sua autoestima, especialmente quando ele perde um jogo. Evite criticar os resultados.
– Dê a seu filho responsabilidades que, com o tempo, aumentarão sua autoconfiança e independência. Não deixe que ele dependa demasiadamente de você.
– Assegure-se de que o tênis competitivo seja uma experiência positiva para seu filho, fundamentalmente no desenvolvimento pessoal. Enfatize aspectos importantes, tais como: a esportividade, ética, melhora pessoal, responsabilidade.
– Evite que o treinamento e a competição se convertam em uma experiência negativa para você e para seu filho.
– Não faça vista grossa aos comportamentos inadequados de seu filho (“roubar bolas”, usar palavrões, ou faltar com respeito). Não esqueça de aspectos importantes do desenvolvimento do jovem por dar prioridade ao tênis. Você deve estar atento e interferir imediatamente caso ele se porte mal e tenha uma conduta inaceitável.
– Compreenda que os filhos não têm somente o direito de jogar tênis, mas também o de não jogar. Anime-o a praticar outros esportes para que conheça mais pessoas e participe de outras atividades. Evite obrigá-lo a jogar somente tênis.
– Esteja preparado para apoiar e ajudar emocionalmente, especialmente quando seu filho tiver problemas. Evite usar o castigo, a falta de carinho, afeto e amor como meios para que seu filho se esforce mais ou jogue melhor.
– Não aumente o sentimento de culpa do jovem, fazendo-o perceber que deve a você tempo, dinheiro ou outros sacrifícios que tenha feito por ele.
– Assista à partida e mantenha a calma tanto em situações positivas quanto negativas, para mostrar que, independentemente do resultado, você se interessa e valoriza o esforço. Evite sair da partida caso seu filho não esteja jogando bem. Enfatize o fato de que, ganhe ou perca, seu carinho por ele será igual. Evite ficar com raiva ou tratá-lo de modo diferente quando perder.
– Tente motivar seu filho a ser independente, a pensar por si mesmo. Mostre interesse pelo tênis dele, assistindo de vez em quando algumas partidas. Deixe claro que ele é quem joga e que, se ele quiser, você verá a partida e o incentivará. Evite estar presente em todos os treinamentos e partidas e usar termos como: “Jogamos”, como se fosse você a entrar na quadra também.
– Compreenda que os tenistas necessitam de tranquilidade quando perdem uma partida. Um tapinha carinhoso nas costas ou uma frase de ânimo são suficientes quando um jogador sai da quadra. Assim que ele estiver mais calmo, você poderá comentar a partida. Evite obrigá-lo a conversar imediatamente depois do jogo.
– Tente passar uma imagem positiva de alegria e calma durante as partidas. Evite mostrar emoções negativas, parecendo nervoso ou chateado junto à quadra quando, por exemplo, seu filho cometer um erro bobo.
– Compare o progresso de seu filho com suas próprias habilidades e objetivos. Evite comparar o progresso dele com o de outros jovens.
– Estabeleça linhas de comunicação claras e tente reunir-se regularmente com o treinador para saber a evolução de seu filho e comentar sobre seus objetivos.
– Compreenda que o treinador é um profissional qualificado, que pode ajudar em muitos aspectos, tanto no tênis quanto fora dele, e também pode ajudá-lo a saber mais sobre o esporte. Colabore com ele, auxiliando-o a compreender melhor a personalidade e sentimentos de seu filho.
– Não evite encontrar-se ou falar com o treinador. Mas evite pensar que o treinador é um simples empregado e que tem, unicamente, interesse profissional.
– Mantenha-se no seu papel de pai. Evite ser o técnico de seu filho (discutindo a técnica, estratégia, etc).
Referências:
-Como ser um melhor pai de tenista: conselhos para ajudar pais de jovens tenistas. Cartilha publicada pela Federação Internacional de Tênis – 2000.
-Robert Weinberg & Daniel Gould, (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício. Ed. Artmed.
-Benno Becker Jr. (org – 2000). Psicologia Aplicada à Criança no Esporte. Ed. Feevale
Excelente. muitas vezes os pais depositam nos filhos sonhos que nao foram realizados por eles. As frustraçoes existem, porem elas devem ser trabalhadas, pois contribui para o amadurecimento,e nao depositadas nos filhos. muito comun ouvir alguns pais falarem:” vc vai ser aquilo que eu nao consegui ser”. Essa e uma questao seria que atrapalha muito a vida de um atleta, principalmente os adolescentes que precisam sempre de um equilibrio fisico e emocional. Rosana.
pelo que eu li eu estou fazendo o certo com meu filho que joga futebol, dexo por conta dele se ele vai continuar jogando ou não e falo pra ele que é preciso saber perder ,vejam no youtub raulzinho show de bola
eu quero e preciso entender o que é ser empresária de meu filho
jogador de basquete?
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