Por acaso você já se perguntou, porque gosta de determinado esporte?
Talvez você não saiba, mas provavelmente você goste tanto, justamente devido as emoções e sentimentos positivos que causa em você. Seja praticando ou simplesmente assistindo, na maioria da vezes as pessoas não tem consciência disso.
Contextualizando:
Seja um atleta iniciante ou um consagrado, um expectador, treinador, arbitro, dirigente ou jornalista. Qualquer pessoa envolvida com o esporte de alguma maneira é capturada pelas emoções e sentimentos que ele propicia.
Todas as emoções e sentimentos que conhecemos e sabemos discriminar estão presentes no esporte. Um atleta é capaz de experimentar diferentes tipos de emoções e sentimentos em uma única partida. O mesmo pode ocorrer com um torcedor. Por exemplo, alegria, tristeza, medo, raiva, euforia, frustração, constrangimento, empatia, arrependimento, entre muitas outras sensações.
O esporte é um dos poucos fenômenos sociais que podem causar tamanha oscilação em nossos sentimentos em tão pouco tempo de duração. Por isso, que os eventos esportivos atraem tantas pessoas. É só observarmos os números de expectadores dos Jogos Olímpicos, da Copa do Mundo de Futebol, dos play-offs da NBA ou do Super Bowl. São megaeventos planetários. Mobilizam bilhões de pessoas.
Definições:
“Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, emoções não são coisas subjetivas que acontecem apenas dentro da mente humana. Trata-se de experiências que envolvem reações orgânicas, bioquímicas e comportamentais. As emoções modificam a frequência cardíaca, a respiração, coloração da pele, tonicidade muscular, além de provocar diversas outras alterações no organismo. As emoções são comportamentos observáveis, ou seja, um observante externo pode compreender que tipo de emoção um sujeito está sentindo, desse modo, as emoções podem ser objeto de estudo científico.” Essa definição de Cesar Borella é muito pertinente e nos ajuda a entender a importância das emoções para os seres humanos. Nesse sentido, um dos objetos de estudos principais da Psicologia é justamente, compreender as emoções e sentimentos.
Para desenvolver ainda mais o conteúdo sobre emoções e sentimentos, acrescento algumas das definições, da neurocientista, Claudia Feitosa-Santana, ela nos ensina muito sobre tudo isso:
‘Uma espécie é formada por indivíduos como características universais, mas cada indivíduo é único. O mesmo raciocínio vale para nossos sentimentos. Ainda que eles tenham características compartilhada, nenhuma pessoa sente igualzinho à outra….
Da mesma forma, um sentimento é universal no sentido de que todos nós podemos nos sentir felizes, tristes, medrosos, excitados, ansiosos etc. Entretanto, somos diferentes em dois pontos fundamentais. Exatamente agora, diante da mesma situação, nesse tempo e espaço, eu e você nunca nos sentiremos do mesmo jeito, mesmo se dissermos que ambos nos sentimos felizes. Mesmo compartilhando similaridades, os sentimentos se apresentam no cérebro de maneira particular para cada um. Agora, imagine que você se recorda de um momento do passado em que se sentiu de maneira parecida como se sente nesse instante. Ainda assim, esses dois sentimentos – o do presente e do passado – não são idênticos….
A emoção vem antes do sentimento, porque ela corresponde ao estado físico. Já o sentimento é a interpretação da emoção, sua experiência mental.
Pense naquela pessoa irritante para você. A emoção está na mudança no batimento cardíaco, da temperatura do corpo, no frio na barriga, numa náusea ou numa dor de cabeça que você sente na presença desse alguém. Mas esses marcadores surgem no corpo, não na mente. Já o sentimento é a forma como interpretamos esse conjunto de alterações. E, no caso especifico da pessoa irritante, você pode interpretar como raiva, irritação, medo etc.
Nossas emoções são apostas do nosso corpo. Nossos sentimentos são apostas do nosso cérebro. Ambos baseados em experiências. Nós nos vemos sempre como reagindo ao mundo, mas, na verdade, estamos sempre reagindo a nós mesmos, prevendo e construindo o mundo dentro da gente…(Trechos de livro – Eu controlo como me sinto: como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz).
PRINCIPAIS EMOÇÕES PRESENTES NO AMBIENTE ESPORTIVO
As emoções são uma das partes das experiências esportivas, tanto quanto, as condições físicas, as condições técnico-táticas, os equipamentos, o treinador e a equipe esportiva. As emoções são o principal determinante de como os atletas irão desempenhar-se nas competições, uma vez que o impacto das emoções sobre a performance atlética é tão poderoso, que afeta cada aspecto de seu desempenho.
Lazarus (2000) agrupou as emoções em cinco categorias:
a) emoções desagradáveis: raiva, inveja e ciúmes;
b) emoções existenciais: medo, ansiedade, culpa e vergonha;
c) emoções provocadas por condições de vida desfavoráveis: alívio, esperança, tristeza e depressão;
d) emoções provocadas por condições de vida favoráveis: felicidade e amor ;
e) emoções empáticas: gratidão e compaixão.
Autocontrole no esporte
É natural em qualquer ser humano querer fugir de situações desagradáveis, de sentimentos e emoções negativas que podem nos trazer situações indesejáveis. Percebo que no ambiente esportivo isso é muito comum. Geralmente, atletas, treinadores e pessoas envolvidas com o esporte evitam ou adiam situações em que não conseguem controlar emoções desagradáveis. Por isso, muitas pessoas no esporte não conseguem lidar com a ansiedade, com a pressão, com situações em que são expostos ou lhes deixem vulneráveis. É muito mais fácil para a nossa espécie lidar com sentimentos e emoções positivas. Nós buscamos esse tipo de sensação, por que isso nos gera prazer. A chave para o autocontrole no esporte ou melhor para o autodominio emocional é justamente, aceitar e entender emoções e sentimentos negativos, não fugir ou reprimir (é o que a maioria das pessoas fazem). Só dessa maneira é que podemos lidar com isso adequadamente.
Ok, mas o que fazer? Como realizar esse domínio emocional?
Sim, existe técnicas psicológicas e comportamentais que ajudam nesse sentido. Técnicas meditativas, visualizações, ensaio mentais, autodiálogos positivos entre outros recursos. Porém, essas técnicas isoladamente podem não ser suficientes. É importante entender todo o contexto para encontrar um procedimento adequado para uma equipe ou pessoa, já que como vimos anteriormente, cada pessoa reage de maneira diferente a mesma emoção ou sentimento.
É o que chamamos na, Psicologia do Esporte, de “preparo psicológico para as competições ou preparo emocional para o alto rendimento esportivo”. É um processo que visa muito mais do que treinar a mente para uma determinada partida. Se preparar psicologicamente é aprender a lidar com todas as adversidades da vida e do esporte que vão afetar a performance, querendo ou não, consciente disso ou não.
Aquele que não tiver em dia com sua preparação emocional:
a- irá em situações de muita pressão se deixar levar por suas emoções negativas, deixará de performar como poderia;
b – poderá comprometer sua saúde mental para além do esporte, já que o estresse, ansiedade e depressão, por exemplo, não escolhe onde e quando atuar;
c – certamente terá mais conflitos do que desejaria, inclusive, com pessoas que ama ou colegas de time;
d – colocará uma lupa de aumento nos erros e entrará numa espiral negativista e derrotista. Prejudicando mais uma vez o desempenho atlético;
Os aspectos psicológicos do esporte são treináveis e podem ser desenvolvidos com paciência, disciplina e repetição. Para as pessoas que desejam se aprofundar no autoconhecimento, a psicoterapia é uma das técnicas que se provou mais eficaz, e o seu poder está em nos ajudar a entender o que sentimos, a lidar com nossos sentimentos e a buscar mudanças de comportamento. E não há nada mais importante, ao longo, da vida, do que entender o que sentimos.
Referências:
Motriz, Rio Claro, v.15 n.4 p.749-758, out./dez. 2009. M. C. N. Miguel, M. R. F. Brandão & V. H. Souza Jogadores de basquetebol de alto rendimento e a vivência de emoções pré-competitivas
http://obviousmag.org/o_infinito_e_logo_ali/2017/respeite-suas-emocoes-elas-te-indicarao-o-caminho.html
Trechos do livros – Eu controlo como me sinto: como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz. Claudia Feitosa-Santana. Editora Planeta.
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