Homofobia no esporte

emersonbeijo  Nas últimas semanas a atitude de atletas fora das competições repercutiu mais do que suas façanhas durante as mesmas.

Emerson Sheik,  Moa Hjelmer, Emma Green-Tregaro, Nick Symmonds,  Kseniya Ryzhova, Tatyana Firov e Yelena Isinbayeva. O que há em comum no comportamento deles?

Com exceção de  Yelena Isinbayeva, todos os nomes citados acima apoiam a diversidade sexual e um mundo mais tolerante. Esse fato nos mostra que a homofobia também está presente no esporte. Não daria para ser diferente, já que o esporte também é reflexo da sociedade em que vivemos. Portanto, existirá homofobia, intolerância, racismo, preconceito, sexismo entre outras violências de toda ordem.

Por que a foto do beijo de Emerson Sheik em seu amigo Isaac Azar publicado em um site de relacionamento ainda choca tanto? Repercutiu mais na mídia e nas redes sociais do que a briga entre torcedores organizados no estádio de Brasília entre São-paulinos e Flamenguistas. Banalizou-se a violência mesmo, é isso? As pessoas estão mais preocupadas com um beijo num amigo do mesmo sexo do que com os constantes confrontos fora dos estádios as vésperas da Copa do Mundo.

O futebol é uma modalidade extremamente machista e intolerante. Falar sobre homossexualidade nesse contexto é tabu. “Futebol é para homem” é jogo de  “macho”, é “esporte viril, varonil” (palavras de um juiz). Talvez, por isso também, que o futebol feminino nunca tenha decolado realmente em nosso território, ainda vive do amadorismo e do talento de atletas abnegadas.

Após a repercussão negativa de sua foto, o atacante, Emerson Sheik, declarou o seguinte:

“Em primeiro lugar, o mundo do futebol é muito machista. Quero deixar bem claro que se alguém se sentiu desrespeitado, desculpa. Lá era o Emerson pessoa, não o jogador. Tenho enorme carinho pelo Isaac, que é um amigo muito especial. Ele é um queridão, a esposa está grávida de nove meses. E daí a galera levou para o lado errado. É um preconceito babaca. Tenho enorme respeito pelo torcedor do Corinthians. A página que postei tem foto minha dando selinho no meu filho. A Hebe beijava todo mundo. A brincadeira foi exatamente para abordar um assunto polêmico. Esse sou eu fora de campo. Para mim, é algo tão natural que não quero mais falar sobre isso”.

Mesmo assim, alguns elementos de uma torcida organizada do Corinthians se manifestaram em frente ao Centro de Treinamento do clube:

protesto contra beijo de emerson

“Se ele quiser ficar com palhaçada, procure outro clube. Representou na Libertadores, mas veado aqui, não. Não é homofobia, mas dentro do Corinthians a gente não aceita veado. A gente sempre “tirou” com os bambis, aí ele faz isso e acha que é normal sair beijando qualquer um? Não queremos que fique se continuar com veadagem. Hoje, somos cinco, mas amanhã 50 e depois 300”.

Muitos membros de torcidas organizadas de clubes em geral são extremamente fanáticos (beirando a patologia), são machistas, intolerantes e homofóbicos. Muitos deles se julgam os únicos detentores dos direitos de torcer pelos seus times e pensam que são mais importantes do que os torcedores comuns e indispensáveis no cotidiano do futebol. Atitude reforçada pela relação promiscua que possuem com dirigentes de suas agremiações.  Esses comportamentos beiram o fascismo e são facilmente observados em suas manifestações dentro e fora dos estádios,  em seus cânticos, no enfrentamento contra rivais e às vezes contra colegas do próprio time,  incluindo o patrulhamento dos atletas em sua vida privada.

O jogador Richarlyson, hoje no Atlético Mineiro, sofreu muito quando atuava pelo São Paulo FC, supostamente por ser homossexual. Parte da torcida não saudava o nome dele e na época exigia sua saída da equipe, independente de seu desempenho em campo. Richarlyson ganhou três títulos brasileiros e foi destaque, principalmente, na conquista do campeonato de 2007, fez parte do grupo campeão mundial em 2005, mesmo assim era odiado e hostilizado por boa parte da torcida, principalmente as organizadas.

Latinos tem fama de serem pessoas mais “afetuosas e emotivas”. Homens argentinos e italianos tem o costume de se beijarem no rosto quando se cumprimentam. Partindo do pensamento medieval explicitado por muitas pessoas após o episodio do beijo de Emerson, então, argentinos e italianos são todos gays? Em algumas cidades da Índia e do Paquistão é comum observarmos homens de mãos dadas ou abraçados andando nas ruas, eles também são gays? Homem demonstrar afeto por outro homem no Brasil, mesmo que ele seja, seu pai, irmão, ou melhor amigo, é “atitude suspeita”? Quanta ignorância ! Pior, é que são frequentes agressões físicas e psicológicas aos homossexuais que expõe seus sentimentos em lugares públicos. Achava que vivíamos num país livre e democrático. Pura ilusão !

caniggia e maradona   buffon  gary neville e paul scholes

No mundial de atletismo, terminado domingo passado, além dos recordes no Estádio Olímpico de Moscou, os holofotes também foram divididos por atitudes de alguns atletas. Isso, se deu, pois o governo russo, criou a  “lei anti-gay” em seu país que não permite aos menores de 18 anos tenham informações sobre a homossexualidade. Além disso, também proíbe a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, vai coibir qualquer tipo de manifestação a favor da união de pessoas do mesmo sexo. Muitos homossexuais vêm sendo constantemente hostilizados e torturados nesse país.

Durante as competições de atletismo o governo russo institui que qualquer atleta, treinador, torcedor gay ou defensor dos direitos dos homossexuais, pode ser preso por até 14 dias e, depois, ser expulso do país. A lei causou protestos durante o Mundial. As suecas Moa Hjelmer e Emma Green-Tregaro chegaram a pintar as unhas com as cores do arco-íris, símbolo da luta por direitos homossexuais. O americano Nick Symmonds dedicou sua medalha de prata nos 800 m livre a seus amigos gays. Esse fato irritou a campeã no salto com vara e ídolo nacional, Yelena Isinbayeva, que se declarou a favor da lei imposta pelo seu governo:

“Nós nos consideramos pessoas normais, dentro do padrão. Vivemos com homens ao lado de mulheres e mulheres ao lado de homens. Tudo deve ser assim, é histórico. Nós nunca tivemos problemas assim na Rússia, e não queremos ter no futuro”.

russas - beijo

Após a repercussão negativa, Isinbayeva tentou justificar o injustificável, alegando não ter fluência no idioma inglês, por isso não foi bem interpretada. Suas compatriotas, depois de vencerem, no revezamento 4 x 400 m,  Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova comemoraram a vitória com um  “selinho” sobre o pódio, uma óbvia afronta às declarações de Isinbayeva.

Por aqui, não dá para deixar de citar o  descabido “projeto cura gay” que foi proposto com intenção de modificar a atuação de psicólogos no país para que terapias psicológicas pudessem reverter a orientação sexual de qualquer pessoa, como se fosse uma doença contagiosa possível de ser tratada. O  Brasil passa por um momento político delicado, onde bancadas religiosas fundamentalistas, barganham votos, passando por cima de qualquer direito humano básico, com pretexto moralista, afim, de impor seus ideais acima de qualquer liberdade individual prevista em nossa Constituição.

A ignorância não é uma questão só de acesso a educação é algo muito mais complexo, não é exclusividade de nenhuma classe social, está incorporada em todas elas. O fato é que a nossa sociedade é extremante conservadora e moralista, só não percebe quem não quer. Para amenizarmos isso, precisamos desenvolver nossa democracia, nossa consciência e nossa civilidade. Para quem sabe um dia, criarmos um país mais tolerante, justo e menos violento.

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para refletir um pouquinho mais em assuntos relacionados:

Gay nos esportes

Nossos ídolos não são mais os mesmos

Não fique apenas com dó. De carinho a um torcedor homofóbico

Transsexualidade de Intersexualidade no esporte (texto em espanhol)

Thai Movie – Beautiful Boxer (baseado numa história real)

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Beijos, até !!!

1 comentário em “Homofobia no esporte”

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