Psicologia do Voleibol

O Voleibol é uma das modalidades esportivas mais populares no mundo, no Brasil é a segunda com mais popularidade. Isso se deve, principalmente, aos grandes resultados das seleções nacionais nos últimos 30 anos. Tornando o país numa das maiores potencias desse esporte.

A ideia desse texto veio a partir da minha experiência profissional nos últimos dois anos acompanhando equipes de base e adulta de voleibol masculinas.

Psicologia do Voleibol

Quais as principais habilidade psicológicas necessárias aos atletas de voleibol?

Todo atleta independentemente da modalidade esportiva deve ter em mente que desenvolver o equilíbrio emocional para os momentos de pressão, ser motivado, ter uma boa capacidade de concentração, ter disciplina, ter combatividade e ter autoconfiança, são elementos básicos para uma performance bem sucedida. No entanto, aos praticantes de voleibol existe habilidades psicológicas que são mais relevantes?

Segundo Bartholomeu (2005), “diferentemente de outros esportes de quadra, no jogo de voleibol a contagem dos pontos acontece em todo momento em que o rally é finalizado. Isso marca muito o “erro” na modalidade, e errar implica não só na perda de posse de bola, mas também, na contagem de um ponto em favor do adversário. Essa situação de “erro” provoca um clima forte de “frustrações”, o que reforça a necessidade de se trabalhar os aspectos psicológicos do jogo uma importância. Isso é ainda mais relevante, quando se está iniciando alguma criança nesta modalidade esportiva.”

É essencialmente relevante para atletas de voleibol, ter uma alta tolerância a frustração e evitar as ‘ruminações psicológicas’, que é: ficar pensando excessivamente no erro ocorrido na jogada anterior e se culpar por isso.

Os níveis de atenção é uma capacidade cognitiva fundamental no voleibol. Por ser uma modalidade muito tática e dinâmica e com uma alta exigência de precisão motora, dentro de quadra qualquer oscilação ou distração nas capacidades atencionais podem ocasionar erros. Como dito anteriormente, um erro pessoal pode propiciar o ponto a equipe adversária. Portanto, estar focado no momento presente, voltar a atenção interna e evitar a flutuação da mesma em quadra é uma habilidade psicológica muito importante. Outro aspecto relacionado a atenção seletiva é a alta capacidade de antecipação de jogadas que podem facilitar ações adequadas para situações de ataque ou de defesa.

Vantagem psicológica

Psicologia do Voleibol

Uma ‘vantagem psicológica’ dessa modalidade é que os treinos são basicamente a reprodução do que irá ocorrer nas partidas, ou seja, são simulações bem semelhantes as competições. A literatura cientifica relacionada a Psicologia do Esporte, indica que quanto mais os treinos forem similares ao ambiente competitivo melhor para a adaptação dos atletas, do ponto de vista emocional e do ponto de visto cognitivo. Essas situações em rotinas de treinamento podem facilitar o entendimento tático e as possíveis variações do jogo.

Nenhum ser humano por mais treinado que esteja tem condições de permanecer extremamente atento por longos períodos. É natural e esperado que as capacidades de atenção e concentração oscilem. No voleibol, há momentos chaves em que os atletas podem desfocar, descansar e recuperar a energia, por exemplo, quando são substituídos, esses momentos são muito importantes para que os atletas consigam ‘arejar a cabeça’, diminuir a intensidade do foco na partida, ouvir alguma instrução que pode lhe auxiliar quando retornar a quadra. Bem como, nos pequenos intervalos entre os pontos, no momento do saque, seja o atleta o executor ou o possível receptor. Essa modalidade propicia pequenos momentos e tempos que podem ser utilizados de maneira mais inteligente e sustentável com intuito de otimizar a performance.

Outro aspecto fundamental, quando não estão acontecendo os rallys, os atletas poderiam aproveitar para manter diálogos positivos consigo mesmo, que são essenciais na manutenção da confiança e motivação, mesmo quando seu desempenho esteja abaixo do esperado. Utilizar técnicas de respiração e visualização podem também auxiliar na recuperação cognitiva da atenção, bem como para manter o foco na tarefa ou para aprimorar o desempenho.

Posição chave

Toda posição na quadra de voleibol é muito importante, todos os atletas que compõem um time são fundamentais do ponto de vista tático. Porém, o papel do levantador para qualquer equipe é crucial para o bom desempenho da mesma. Além da destreza técnica, geralmente os levantadores são os mais habilidosos das equipes. Invariavelmente o levantador participará de todos as jogadas. Ele (a) é o ‘cérebro’ do time, ditando o ritmo, escolhendo a melhor jogada de acordo com a sua percepção. Portanto, um levantador necessita ter uma grande autoconfiança para conseguir passar confiança aos seus colegas de equipe. Além disso, deve se comunicar bem, ser motivado, ser entrosado com seus colegas para influenciar positivamente e conseguir realizar seu papel com precisão necessária.

Papel do treinador

Como em qualquer modalidade esportiva o treinador é uma figura de liderança fundamental, no voleibol não é diferente. No entanto, entendo que por questões especificas dessa modalidade, os treinadores devem ter algumas habilidades pessoais, são elas:

1 – Comunicação efetiva:

Saber se comunicar com objetividade e precisão é uma habilidade das mais efetivas aos treinadores de voleibol. É essencial para dar instruções, redirecionar jogadas, mudar a tática, dar feedbacks claros, manter o ânimo da equipe, por exemplo, durante os tempos de intervalo em uma competição ou especificamente para algum atleta que estiver no banco de reservas.

2 – Saber ouvir:

Geralmente uma equipe de voleibol conta com outros personagens importantes da comissão técnica, os auxiliares técnicos e estatísticos. Às vezes, no calor da competição um treinador não consegue ‘enxergar’ todas as nuances que aquela disputa proporciona. Portanto, os auxiliares podem fazer um importante papel de contraponto ao mediar informações especificas sobre determinados atletas da própria equipe ou dos adversários. Bem como, sugerir mudanças de posicionamento ou de estratégias pontuais. Conseguir ouvir e valorizar informações de seus pares pode ser muito relevante para o bom desempenho de suas funções com líder de um time.

3 – Gestão de pessoas:

Talvez essa seja uma das tarefas mais difíceis e desafiadoras de um treinador de voleibol. Por ser uma modalidade extremamente coletiva a habilidade de gerenciamento de um grupo é fundamental para um bom ambiente de trabalho e para motivar os atletas, principalmente, aqueles que não entram com frequência nas partidas e que continuam desempenhando nos treinamentos. Nesse sentido, é importante aos treinadores conseguir dar feedbacks individuais aos seus comandados para desenvolver a motivação, aprimorar a tática de jogo, bem como propiciar a coesão do grupo e conhecer minimamente aquele ser humano com quem está trabalhando.

Delegar tarefas aos demais membros de comissão técnica, confiar nos mesmos, apoiar e compartilhar seus conhecimentos específicos, pode tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e interdisciplinar. Promover e desenvolver lideranças, o respeito e a empatia entre os atletas, são funções importantes de um bom treinador de voleibol. Além do que, ser um estudioso da modalidade para propiciar treinos que possam ser efetivos, inteligentes e transferíveis para as competições.


4 – Gerenciar as próprias emoções:

A responsabilidade de estar a frente de um grupo de atletas e de uma comissão técnica exige muitas responsabilidades. Nem sempre os treinadores conseguem gerenciar suas próprias emoções, devido as muitas tarefas, geralmente, esse aspecto fica em segundo plano. Principalmente, treinadores de categorias de base, onde frequentemente acumulam funções que extrapolam o seu papel.

As pesquisas mostram que os treinadores esportivos apresentam altos índices de estresse, de pressão e de ansiedade devido as rotinas de trabalho e comportamentos disfuncionais . Muitos apresentam dificuldade de relaxar e se desligar após competições. Alguns tem sobrecarga de trabalho, sendo responsável por mais de uma categoria de atletas.

Para gerenciar as próprias emoções, é importante obter estratégias de autocuidado, autoconhecimento, acompanhamento psicológico em sua equipe de trabalho para justamente, ajudar na prevenção e promoção da saúde mental. É mais comum do que se imagina a quantidade de treinadores com transtornos emocionais graves, como, a depressão, crises de pânico ou o burnout, por exemplo. O que pode acabar por impactar negativamente em suas vidas pessoais. O papel de um profissional de psicologia do esporte é de apoiar e ser um aliado dos treinadores e atletas no desenvolvimento de sua saúde mental e da alta performance no esporte.

Psicologia do Voleibol

Referências:

VOLEBOL E A PSICOLOGIA DO ESPORTE – MARIA REGINA FERREIRA BRANDÃO e AFONSO ANTONIO MACHADO
ED. Atheneu

Técnicas de Treinamento Mental para melhora de fundamentos do Voleibol – Daniel Bartholomeu et al. (2005)

***

Abraços!!

Até …

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: