Quem faz a Psicologia do Esporte?
A segunda entrevista da série “Quem faz a Psicologia do Esporte ?” É com o psicólogo comportamental Eduardo Cillo*.
Muricy Ramalho, quando ainda estava no Palmeiras disse: “Time grande, que paga em dia e dá todas as condições para os jogadores não precisa de “conversinha” “. Acho que precisamos mudar a imagem da nossa profissão, não?
Blog: Conte um pouco de sua trajetoria profissional e porquê decidiu trabalhar com psicologia do esporte?
Eduardo: Fui atleta de natação durante 10 anos e creio que por muito tempo pensei em questões relacionadas à psicologia do esporte, sem saber exatamente que acabaria trabalhando nessa área. Eram questões relacionadas à variação de estados emocionais e performance esportiva. Ou questionamentos pertinentes ao modo como via a relação com os treinadores.
Posteriormente, durante a graduação, me interessei pela área e percebi que havia muito pouco disponível naquela época (começo dos anos 90).
Comecei na área em um grupo de estudo junto com a Katia Rubio, na Escola de Educação Física da Usp e depois acabei tomando outros rumos, sempre procurando contribuir para a relação entre análise do comportamento e esporte. Atualmente preocupo-me com a consultoria aplicada à equipes e atletas e com o ensino de psicologia do esporte.
Blog: A Análise do comportamento ainda é vista com algum receio na psicologia clínica, porém na psicologia do esporte é uma das abordagens com maior influência. Qual sua opinião sobre isso?
Edurdo: Bom, na verdade a relação entre análise do comportamento e esporte é facilitada pela objetividade com a qual se tratam fenômenos comportamentais nas duas áreas. Não concordo muito com o receio da análise do comportamento na clínica. Isso só existe por parte de representantes de outras abordagens teóricas. Será medo?
Blog: Há muitos autores que dizem que as Neurociênicias irão cada vez mais influenciar a psicologia em geral. O que você pensa sobre isso? Será que essa possível influência terá repercussão na psicologia do esporte?
Eduardo: Creio que esta aproximação é natural e necessária. Se olharmos para o ser humano de uma forma integrada, ou seja monista, precisamos admitir a importância da interação entre as variáveis ambientais e as biológicas. Não devemos atribuir causalidade às variáveis neurológicas, mas devemos admitir que afetam o comportamento. Para a psicologia do esporte esta influência é muito importante e pode ajudar a entender uma série de processos dos quais temos apenas uma vaga noção se apoiados exclusivamente no conhecimento prodizido pela psicologia.
Blog: Sua tese de mestrado é um tema muito interessante (análise de jogo) você já conseguiu aplicá-la em sua prática profissional?
Eduardo: A dissertação nasceu justamente de uma demanda prática: o treinador de basquetebol com quem eu trabalhava me pediu para avaliar se os jogadores estavam fazendo na hora dos jogos aquilo que era treinado, em termos de jogadas ensaiadas. De quebra fiz uma avaliação da eficiência das jogadas treinadas. Discuti os resultados dos estudos com o treinador, mas perdemos contato logo depois, pois me mudei de cidade e não sei o que ele fez com aquelas informações.
Adaptei os estudos para o futebol de campo e apliquei parte deles em um clube de BH.
Blog: Comente sobre seu trabalho que está sendo produzido em Doutorado. Você acha que poderá ser aplicado em contextos esportivos?
Eduardo: Minha tese trata da influência verbal na aquisição de padrões motores. O tema surgiu da observação da interação entre treinadores e atletas de base e pode ser utilizado
Blog: Sabemos que você já trabalhou com futebol no America-MG. Por que o futebol é uma das modalidades que menos contratam psicólogos do esporte?pelos treinadores destas categorias para aprimorar o modo como conduzem treinamentos. Primeiro vou defender e depois pensar em como divulgar.
Eduardo: Tive, também, algumas experiências nas bases do Cruzeiro e do Atlético. Foi bem interessante e desmistificador.
A meu ver os clubes brasileiros investem na psicologia em categorias de base, mas não nos times principais, de um modo geral. Acredito que são vários os fatores que contribuem para isso. Dentre eles: a imagem social da psicologia ainda está amplamente relacionada à ações assistecialistas e remediativas. Assim, reconhece-se a necessidade de “cuidar” dos garotos nas categorias de base, mas só se pensa nisso com adultos quando alguma coisa sai da linha e precisa de “conserto”. Além disso, há uma grande concentração de poder nas equipes principais e tudo depende da aceitação do treinador. Muricy Ramalho, quando ainda estava no Palmeiras disse: “Time grande, que paga em dia e dá todas as condições para os jogadores não precisa de “conversinha””. Acho que precisamos mudar a imagem da nossa profissão, não?
Blog: Você é professor universitário. Qual dica você dá aos estudantes que gostariam de trabalhar com psicólogia do esporte.
Eduardo: Depois de 5 anos na Puc Minas, tive uma breve passagem pela Unip e agora estou em um projeto muito interessante da Anhembi Morumbi, com aulas de psicologia do esporte para educação física e psicologia (nesse caso a disciplina faz parte da grade obrigatória!!). Penso que estudantes interessados devem frequentar eventos científicos, aproximar-se da educação física e procurar por oportunidades de estágio.
Blog: O que lhe agrada mais, a pesquisa academica? A docência? Ou o consultória em psicologia do esporte?
Eduardo: Gosto igualmente da consultoria e da docência. Meu negócio é trabalhar com grupos e, em ambos os ambientes, tenho essa oportunidade.
Blog: Têm algo que gostaria de compartilhar com o blog?
Eduardo: Aproveito para divulgar a I Jornada de Psicologia do Esporte do Núcleo Paradigma, nos dias 28 e 29/5. Em breve mais informações estarão disponíveis no site www.nucleoparadigma.com.br
* Doutorando em psicologia experimental pela Usp, mestre e graduado em psicologia pela Puc/SP.
Experiência na consultoria junto a diversas modalidades, equipes e atletas.
Sócio da Interação Esporte e Psicologia Ltda.
Professor dos cursos de Psicologia e Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi.
contatos: edcillo@yahoo.com, home: www.interagir.com.br, fone: (11) 9454-9774.
Abraços.
Até !!!